Sessenta
anos rolaram sobre a toalha de linho puro que entrelaçou as mãos dele e dela.
Dois corações bordados na mesma tela ainda vivem nas paredes da alcova daquele
amor primeiro e único.
Era manhã de sol dourado e foi dia sem
termo aquele de Julho, véspera de Agosto.
Hoje,
volvidos sessenta anos, foi também véspera de Agosto. Mas foi outro o brilho do
mesmo sol. Declinava o dia e em fim de tarde estival, era mais pleno e fundo o
ar envolvente. No horizonte, além do mar, apertavam-se nimbos de lágrimas-ouro
e escarlate…
A
pequena ermida transfigurou-se e foi basílica em ogiva para comemorar seis
décadas da grande jornada. Diante do altar aguardava o nubente, agora
octogenário. A ‘noiva’, do mesmo percurso etário, ela é que não chegava… E jamais
chegaria. Alguns meses antes partira,
para não mais voltar. A sua ‘festa´, talvez, seria o reeditar do “Noivado do Sepulcro”, do
romântico poeta Soares de Passos.
Mas
ela estava ali, co-autora e protagonista da grande comemoração. A sua cadeira
vazia, como num sortilégio de sonho, encheu-se, multiplicou-se, alcandorou-se
com a presença de filhos e netos que ocuparam o lugar dela, a nubente-longe, a
esposa-perto, a mãe e avó-omnipresente!
Sem
palavras! Não há fórmulas nem liturgias que definam ou abarquem sequer este
momento que toca o infinito, esta hora épica, misto de elegia fúnebre e marcha
triunfal… A Dor e a Glória irmanadas no mesmo berço!... A morte a vida no mesmo
abraço fremente e indivisível!
Por
isso, sentindo embora cair dentro de nós lágrimas de ouro e saudade, jovens e crianças fizeram brotar no íntimo de todos os
presente os cânticos de diamante e homenagem, ao ritmo da “Marcha Nupcial” de
Frédéric Mendelssohn:
Viva quem casou por amor, Viva o Senhor
Foram felizes na Amizade e na Verdade
A vida é bela para quem assim
Amor que nunca terá fim
31.Jul.20
Martins Júnior
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