sexta-feira, 31 de julho de 2020

LÁGRIMAS DE OURO, CÂNTICOS DE DIAMANTE


                                                                 

        Sessenta anos rolaram sobre a toalha de linho puro que entrelaçou as mãos dele e dela. Dois corações bordados na mesma tela ainda vivem nas paredes da alcova daquele amor primeiro e único.
         Era manhã de sol dourado e foi dia sem termo aquele de Julho, véspera de Agosto.
Hoje, volvidos sessenta anos, foi também véspera de Agosto. Mas foi outro o brilho do mesmo sol. Declinava o dia e em fim de tarde estival, era mais pleno e fundo o ar envolvente. No horizonte, além do mar, apertavam-se nimbos de lágrimas-ouro e escarlate…
A pequena ermida transfigurou-se e foi basílica em ogiva para comemorar seis décadas da grande jornada. Diante do altar aguardava o nubente, agora octogenário. A ‘noiva’, do mesmo percurso etário, ela é que não chegava… E jamais chegaria.  Alguns meses antes partira, para não mais voltar. A sua ‘festa´, talvez, seria o  reeditar do “Noivado do Sepulcro”, do romântico poeta Soares de Passos.
Mas ela estava ali, co-autora e protagonista da grande comemoração. A sua cadeira vazia, como num sortilégio de sonho, encheu-se, multiplicou-se, alcandorou-se com a presença de filhos e netos que ocuparam o lugar dela, a nubente-longe, a esposa-perto, a mãe e avó-omnipresente!
Sem palavras! Não há fórmulas nem liturgias que definam ou abarquem sequer este momento que toca o infinito, esta hora épica, misto de elegia fúnebre e marcha triunfal… A Dor e a Glória irmanadas no mesmo berço!... A morte a vida no mesmo abraço fremente e indivisível!
Por isso, sentindo embora cair dentro de nós lágrimas de ouro e saudade,  jovens e  crianças fizeram brotar no íntimo de todos os presente os cânticos de diamante e homenagem, ao ritmo da “Marcha Nupcial” de Frédéric Mendelssohn:
Viva quem casou por amor, Viva o Senhor
Foram felizes na Amizade e na Verdade
A vida é bela para quem assim
Amor que nunca terá fim   

31.Jul.20
Martins Júnior

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