“Vale
o que vale” – será talvez a nota que melhor se poderá apor ao concurso das Sete Maravilhas da Cultura Popular
da Ilha (ou da Região). Porque
neste, mais que em quaisquer outros
certames ou ‘eleições’, o voto popular nunca vem só. A suportá-lo e a
condicioná-lo, há uma argamassa de betão ciclópico que fala mais alto e a que
chamo um legítimo e afiançado patriotismo bairrista, quando não se lhe atrelam
outros instintos ridiculamente desviantes. Os dedos deslizam sobre o telemóvel
à procura da meta, mas quem fala primeiro é o coração: “Votas no nosso”!
Ora,
é por isso que eu votaria em todas e cada uma das Sete Maravilhas propostas. E votaria em muitas outras que não foram
seleccionadas, não obstante o seu elevado índice de representatividade no
panorama cultural regional. Em vez de sete, teríamos o já conhecido mote de ‘setenta
vezes sete’. Porque todas são nossas, todas batem-nos à porta do coração,
tocando o irresistível refrão da sensibilidade madeirense. “Esta é nossa. E
aquela também. E mais a outra. Todas são nossas”.
Mas
é preciso optar. Mais fácil e ocioso seria haver uma só concorrente… Aí está a ‘penosa’
dádiva da liberdade, o glorioso fardo de escolher, de votar. Porque toda a opção
exige reflexão. E a reflexão custa, tem um preço maior que o seu efeito
imediato. Impõe-se-nos colocar na encruzilhada dos possíveis o primado da Razão.
Obriga-nos a rever e corrigir o velho
axioma de que “o coração tem razões que a razão não entende”. No caso em
apreço, o único coração que bate na alma de todos nós, ilhéus, só tem um nome:
Madeira-Porto Santo. É este o verdadeiro
GPS que nos fará sair vitoriosos nesta
corrida a outro nível, a Cultura. Saibamos despir o falso verniz de um
provincianismo tacanho, por outras palavras, tenhamos a coragem de depor os
velhos obuses do tal patriotismo bairrista e olhar a paisagem pelo visor da
Razão.
Assim, o primeiro embate será o de
definir “Cultura”. Depois, o conceito de “Popular”. E, em plano superior,
porque crítico e analítico, a exacta conotação do termo “Maravilha”.
O
embaraço começa pelo âmbito da “Cultura”, o que é, qual o seu alcance, o que
cabe ou não cabe dentro dela. Será puro academismo? Ou, pelo contrário, quanto valerá a
intensidade telúrica, o cheiro à terra e ao mar? A que manuais está sujeita? Estará
na batida da praça pública, nas redes sociais, nos áudio-visuais? Entre a
materialidade e a imaterialidade, qual terá mais peso na balança cultural?...
Depois, a compreensão e a extensão de
uma determinada realidade para merecer o
qualificativo de “Popular”. Terá a ver com o passado, a sua maior longevidade,
a latitude do seu significado, a identificação com a ancestralidade e a alma de
um povo? Ou será apenas o que está na moda, no ouvido, no mercado
consumista?...
Finalmente,
da pisa e repisa destes dois cabazes psico-sociológicos (Cultura-e-Popular) no Lagar da Razão, sairá o vinho em mosto
daquilo que se pretende: a “Maravilha”. Sendo certo que, também aqui, a
realidade toma a cor dos olhos que a vêem (“quem o feio ama, bonito lhe parece”,
diz a filosofia popular) compete ao observador isento guiar-se por uma ordem de
critérios ou escala de valores, acima de eventuais rajadas emotivas. A “circunstância”
– o lugar, o tempo, a empatia ou seu contrário, a vizinhança, o clubismo e
afins – a “circunstância, sublinho, deve ficar de rigorosa quarentena, na hora
de escolher, entre as Sete, aquela que merece ostentar o epíteto de Primeira Maravilha da Cultura Popular
Regional.
No
elenco dos critérios definidores, deixei para o fim aquele que me parece dever figurar
como condição sine qua non para
alcançar o pódio maravilhoso: a originalidade! Por tratar-se de Cultura Popular entendo exigível uma
característica distintiva, se possível, única, tal como registo de marca e símbolo histórico identitário da
terra de que é oriundo.
Até
aqui, a teoria. Apresentei-a, de forma rudimentar, mas relativamente segura
para um bom discernimento perante o Setestrelo
Maravilhoso que nos é proposto. Da minha parte, como madeirense, também vou
às ‘urnas digitais’, abertas até
quinta-feira, 16. Também já fiz a minha opção e, com o devido respeito para com
todas as outras, dá-la-ei a conhecer amanhã, com base na criteriologia supra-descrita,
sujeitando-me ao debate esclarecedor de quem tenha opções diversas da minha.
Debater,
comparar, descobrir. Talvez seja esta a Oitava
e a Maior Maravilha da Cultura de um Povo!
13.Jul.20
Martins Júnior
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