segunda-feira, 13 de julho de 2020

UMA HISTÓRIA QUE É NOSSA:


                                                         

“Vale o que vale” – será talvez a nota que melhor se poderá apor  ao concurso das Sete Maravilhas da Cultura Popular  da Ilha (ou da Região). Porque neste, mais que  em quaisquer outros certames ou ‘eleições’, o voto popular nunca vem só. A suportá-lo e a condicioná-lo, há uma argamassa de betão ciclópico que fala mais alto e a que chamo um legítimo e afiançado patriotismo bairrista, quando não se lhe atrelam outros instintos ridiculamente desviantes. Os dedos deslizam sobre o telemóvel à procura da meta, mas quem fala primeiro é o coração: “Votas no nosso”!
Ora, é por isso que eu votaria em todas e cada uma das Sete Maravilhas propostas. E votaria em muitas outras que não foram seleccionadas, não obstante o seu elevado índice de representatividade no panorama cultural regional. Em vez de sete, teríamos o já conhecido mote de ‘setenta vezes sete’. Porque todas são nossas, todas batem-nos à porta do coração, tocando o irresistível refrão da sensibilidade madeirense. “Esta é nossa. E aquela também. E mais a outra. Todas são nossas”.
         Mas é preciso optar. Mais fácil e ocioso seria haver uma só concorrente… Aí está a ‘penosa’ dádiva da liberdade, o glorioso fardo de escolher, de votar. Porque toda a opção exige reflexão. E a reflexão custa, tem um preço maior que o seu efeito imediato. Impõe-se-nos colocar na encruzilhada dos possíveis o primado da Razão. Obriga-nos a  rever e corrigir o velho axioma de que “o coração tem razões que a razão não entende”. No caso em apreço, o único coração que bate na alma de todos nós, ilhéus, só tem um nome: Madeira-Porto Santo.  É este o verdadeiro GPS  que nos fará sair vitoriosos nesta corrida a outro nível, a Cultura. Saibamos despir o falso verniz de um provincianismo tacanho, por outras palavras, tenhamos a coragem de depor os velhos obuses do tal patriotismo bairrista e olhar a paisagem pelo visor da Razão.
         Assim, o primeiro embate será o de definir “Cultura”. Depois, o conceito de “Popular”. E, em plano superior, porque crítico e analítico, a exacta conotação do termo “Maravilha”.
O embaraço começa pelo âmbito da “Cultura”, o que é, qual o seu alcance, o que cabe ou não cabe dentro dela. Será puro academismo?  Ou, pelo contrário, quanto valerá a intensidade telúrica, o cheiro à terra e ao mar? A que manuais está sujeita? Estará na batida da praça pública, nas redes sociais, nos áudio-visuais? Entre a materialidade e a imaterialidade, qual terá mais peso na balança cultural?...
         Depois, a compreensão e a extensão de uma determinada  realidade para merecer o qualificativo de “Popular”. Terá a ver com o passado, a sua maior longevidade, a latitude do seu significado, a identificação com a ancestralidade e a alma de um povo? Ou será apenas o que está na moda, no ouvido, no mercado consumista?...
Finalmente, da pisa e repisa destes dois cabazes psico-sociológicos  (Cultura-e-Popular)  no Lagar da Razão, sairá o vinho em mosto daquilo que se pretende: a “Maravilha”. Sendo certo que, também aqui, a realidade toma a cor dos olhos que a vêem (“quem o feio ama, bonito lhe parece”, diz a filosofia popular) compete ao observador isento guiar-se por uma ordem de critérios ou escala de valores, acima de eventuais rajadas emotivas. A “circunstância” – o lugar, o tempo, a empatia ou seu contrário, a vizinhança, o clubismo e afins – a “circunstância, sublinho, deve ficar de rigorosa quarentena, na hora de escolher, entre as Sete, aquela que merece ostentar o epíteto de  Primeira Maravilha da Cultura Popular Regional.
No elenco dos critérios definidores, deixei para o fim aquele que me parece dever figurar como condição sine qua non para alcançar o pódio maravilhoso: a originalidade! Por tratar-se de Cultura Popular entendo exigível uma característica distintiva, se possível, única, tal como registo de marca  e  símbolo histórico identitário da terra de que é oriundo.
        Até aqui, a teoria. Apresentei-a, de forma rudimentar, mas relativamente segura para um bom discernimento perante o Setestrelo Maravilhoso que nos é proposto. Da minha parte, como madeirense, também vou às ‘urnas digitais’,  abertas até quinta-feira, 16. Também já fiz a minha opção e, com o devido respeito para com todas as outras, dá-la-ei a conhecer amanhã, com base na criteriologia supra-descrita, sujeitando-me ao debate esclarecedor de quem tenha opções diversas da minha.
Debater, comparar, descobrir. Talvez seja esta a Oitava e a Maior Maravilha da Cultura de um Povo!

13.Jul.20
Martins Júnior    


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