sábado, 3 de outubro de 2020

O CONTADOR DE ESTÓRIAS… DE ONTEM, DE HOJE E DE SEMPRE

                                                                        


        Entre soluços e lamentos, as ameaças e as condenações. Com o pisar das uvas, também o sangue que dos corpos esguicha por todos os poros. Já não é do mosto doce que o Mestre, Contador de estórias e alegorias, nos fala.

     Cava mais fundo, não se fica pela rama singular ou pelo pé de bacelo solitário. O sábio Contador de estórias atira-se ao coração da História, a do seu povo, a dos seus chefes, a dos que, possuindo a chave do reino da Promissão, sepultam maquiavelicamente a sua gente.

         Está tudo no texto de Mateus, capítulo 21, 33-43.00.  Vale a pena abrir o Livro e monitorizar os dados nevrálgicos da questão, os antecedentes, as agravantes, os locais do crime e os meandros da corrupção. A vindima, o lagar, o vinagre em vez de vinho. Autores: os técnicos, os enólogos, os feitores, os administradores. Todos eles, em cartel mafioso, conluiados para que a colheita, que se aguardava promissora, saísse malograda, raquítica, amarga.

A Justiça foi célere, pesada, tão ‘cega e surda’ que mais se assemelhava ao furor de uma vingança: destituição dos responsáveis, devolução dos campos e entrega imediata a um povo que amasse a terra arável e a tornasse fértil.

O Mestre não contava estórias para entreter ou anestesiar os conterrâneos. O Contador sabia onde queria chegar e para onde pretendia que a sua gente dirigisse o pensamento e a acção. Construir uma terra nova onde todos pudessem viver. Para isso, era urgente “derrubar os poderosos dos seus tronos”, como desde a infância lhe ensinara a sua Mãe. (Lc.1,52 ). Agora, adulto e líder desejado da multidão explorada e faminta, não teve pejo em denunciar publicamente os antros dourados em que pontificavam os demagogos, os maus feitores, os cangalheiros do povo: “Mandará matar sem piedade esses malvados, tirar-lhes-á o reino e será dado a quem produza o seu fruto” Mt.21. 33-43).

Vem, Mestre Contador de estórias iguais ou piores que as tuas. Ainda hoje, os senhorios sobrevoam as terras, mandam chover granizo que queima a terra e quem nela trabalha. A denúncia é connosco  e o braço forte é o nosso. Para que “a terra dê o seu fruto” e haja pão em todas as mesas.

 

03.Set.20

Martins Júnior

        

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