Entre
soluços e lamentos, as ameaças e as condenações. Com o pisar das uvas, também o
sangue que dos corpos esguicha por todos os poros. Já não é do mosto doce que o
Mestre, Contador de estórias e alegorias, nos fala.
Cava
mais fundo, não se fica pela rama singular ou pelo pé de bacelo solitário. O
sábio Contador de estórias atira-se ao coração da História, a do seu povo, a
dos seus chefes, a dos que, possuindo a chave do reino da Promissão, sepultam
maquiavelicamente a sua gente.
Está tudo no texto de Mateus, capítulo
21, 33-43.00. Vale a pena abrir o Livro
e monitorizar os dados nevrálgicos da questão, os antecedentes, as agravantes,
os locais do crime e os meandros da corrupção. A vindima, o lagar, o vinagre em
vez de vinho. Autores: os técnicos, os enólogos, os feitores, os
administradores. Todos eles, em cartel mafioso, conluiados para que a colheita,
que se aguardava promissora, saísse malograda, raquítica, amarga.
A
Justiça foi célere, pesada, tão ‘cega e surda’ que mais se assemelhava ao furor
de uma vingança: destituição dos responsáveis, devolução dos campos e entrega
imediata a um povo que amasse a terra arável e a tornasse fértil.
O
Mestre não contava estórias para entreter ou anestesiar os conterrâneos. O
Contador sabia onde queria chegar e para onde pretendia que a sua gente
dirigisse o pensamento e a acção. Construir uma terra nova onde todos pudessem
viver. Para isso, era urgente “derrubar os poderosos dos seus tronos”, como desde
a infância lhe ensinara a sua Mãe. (Lc.1,52 ). Agora, adulto e líder desejado da multidão explorada e faminta, não teve
pejo em denunciar publicamente os antros dourados em que pontificavam os
demagogos, os maus feitores, os cangalheiros do povo: “Mandará matar sem piedade esses malvados, tirar-lhes-á o reino e será
dado a quem produza o seu fruto” Mt.21. 33-43).
Vem,
Mestre Contador de estórias iguais ou piores que as tuas. Ainda hoje, os
senhorios sobrevoam as terras, mandam chover granizo que queima a terra e quem
nela trabalha. A denúncia é connosco e o
braço forte é o nosso. Para que “a terra dê o seu fruto” e haja pão em todas as
mesas.
03.Set.20
Martins Júnior
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