Se
‘10 anos é muito tempo’, 110 anos
quantos tempos serão?!
E
se lhes adicionamos os cerca de 900 da nação portucalense, até ao longínquo 5
de Outubro de 1143, vemo-nos perdidos como as caravelas sebastianistas em
Alcácer-Quibir. Porém, neste percurso
quase milenar, há um elemento intemporal que nos une: O Mar Português.
Navegamos, naufragamos, emergimo-nos das mesmas “salsas ondas”, ainda que sejam
elas feitas de lágrimas, “Lágrimas de Portugal”.
Monarquias
ou Repúblicas, Regências ou Interregnos, perdas de Soberania ou Recuperação
dela, Impérios, vitórias ou derrotas, pertencem todas ao mesmo Povo Herdeiro,
filhos que somos daqueles que tudo fizeram. Da mesma fibra, dos mesmos genes, da
mesma enxertia mestiçada, multirracial e pluricultural!
Monarquia
e República são acidentes de percurso. Ambas nasceram em berços de sangue,
lutas matricidas, guerras fratricidas, arroubos de amor pátrio ou ambições
desmedidas. Amor pátrio, sublinho. Foi esta força telúrica, foi este património
imaterial da Portugalidade que subiu à gávea, segurou as velas, aguentou o leme e avançou, firme,
contra os adamastores de fora e de dentro. Cada um, português anónimo, do maior
ao mais pequeno, seja qual o seu posto, bem podia gritar aos ventos e aos
mares: “Aqui… sou mais do que eu… Sou um Povo”… Sou Portugal!
Da
mesma forma que se ergueu o monumento ao Soldado Desconhecido, deveria
levantar-se o mausoléu vivo ao Patriota Ignorado. De todos os tempos: de 1385,
de 1640, de 1820, de 1910, de 1974! Só ficaram nos livros os Vencedores. Porque
milhares, milhões sem conto, foram os patriotas vencidos para que subissem ao
vértice da História os poucos que lá ficaram. Mas esses, os poucos que ficaram,
estendem os braços e franqueiam o coração para nos ensinarem, como em livro
aberto, o que é ser patriota:
Ser
patriota não é um título nobiliárquico: é um ónus de serviço irrecusável.
Patriota não é o brasonado, coberto de medalhas e comendas: é o profissional de
peito limpo, marcado apenas pela competência oficinal e pela consciência
cívica. O patriotismo não está no mastro da bandeira alçada ao pico : está nas
botas rotas do agricultor, nos calos das mãos do operário, nos dedos picados
das bordadeiras. O Patriotismo não sai nunca dos trombones e trompetes de uma
marcha militar, de elmos luzidios, que toca
as mesmas pautas do mesmo Hino Nacional, tanto para a Monarquia como
para a República, tanto para a ditadura como para a democracia. Patriotismo não
se cola aos colarinhos brancos, ainda que eloquentes uma vez em cada ano: vive,
sim e apenas nos meios ecológicos do quotidiano dos que ensinam os verdadeiros
caminhos do Pensamento e da Cidadania. O patriota não esconde a verdade da
extensão pandémica, mas luta silenciosamente até ao limite (e há-os tantos, desconhecidos,
neste país) para vencer o vírus
anti-humano que nos afoga.
Para
nossa desdita e necessária responsabilização, quase sempre o verdadeiro
Patriota serve-se morto. Citando apenas a minoria: Camões, António Vieira, Gomes Freire de Andrade – e, entre nós, ilhéus de Machico, Francisco
Álvares de Nóbrega, defensor da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade,
desde os séculos XVIII e XIX. Tal como em França, Jeanne d’Arc, posta em pé de
altar pela mesma sacro-patrioteira instituição que a queimou na fogueira!...
Aqui,
também, se pode afirmar com plena verdade: O Patriota não nasce. O Patriota
faz-se! Onde quer que estejas, és Portugal, se o quiseres!
05.Out.20
Martins Júnior
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