segunda-feira, 5 de outubro de 2020

REPUBLICANO E PATRIOTA!

                                                                               


Se ‘10 anos é muito tempo’,  110 anos quantos tempos serão?!

E se lhes adicionamos os cerca de 900 da nação portucalense, até ao longínquo 5 de Outubro de 1143, vemo-nos perdidos como as caravelas sebastianistas em Alcácer-Quibir.  Porém, neste percurso quase milenar, há um elemento intemporal que nos une: O Mar Português. Navegamos, naufragamos, emergimo-nos das mesmas “salsas ondas”, ainda que sejam elas  feitas de lágrimas, “Lágrimas de Portugal”.

Monarquias ou Repúblicas, Regências ou Interregnos, perdas de Soberania ou Recuperação dela, Impérios, vitórias ou derrotas, pertencem todas ao mesmo Povo Herdeiro, filhos que somos daqueles que tudo fizeram. Da mesma fibra, dos mesmos genes, da mesma enxertia mestiçada, multirracial e pluricultural!

Monarquia e República são acidentes de percurso. Ambas nasceram em berços de sangue, lutas matricidas, guerras fratricidas, arroubos de amor pátrio ou ambições desmedidas. Amor pátrio, sublinho. Foi esta força telúrica, foi este património imaterial da Portugalidade que subiu à gávea, segurou  as velas, aguentou o leme e avançou, firme, contra os adamastores de fora e de dentro. Cada um, português anónimo, do maior ao mais pequeno, seja qual o seu posto, bem podia gritar aos ventos e aos mares: “Aqui… sou mais do que eu… Sou um Povo”… Sou Portugal!

Da mesma forma que se ergueu o monumento ao Soldado Desconhecido, deveria levantar-se o mausoléu vivo ao Patriota Ignorado. De todos os tempos: de 1385, de 1640, de 1820, de 1910, de 1974! Só ficaram nos livros os Vencedores. Porque milhares, milhões sem conto, foram os patriotas vencidos para que subissem ao vértice da História os poucos que lá ficaram. Mas esses, os poucos que ficaram, estendem os braços e franqueiam o coração para nos ensinarem, como em livro aberto, o que é ser patriota:

Ser patriota não é um título nobiliárquico: é um ónus de serviço irrecusável. Patriota não é o brasonado, coberto de medalhas e comendas: é o profissional de peito limpo, marcado apenas pela competência oficinal e pela consciência cívica. O patriotismo não está no mastro da bandeira alçada ao pico : está nas botas rotas do agricultor, nos calos das mãos do operário, nos dedos picados das bordadeiras. O Patriotismo não sai nunca dos trombones e trompetes de uma marcha militar, de elmos luzidios, que toca  as mesmas pautas do mesmo Hino Nacional, tanto para a Monarquia como para a República, tanto para a ditadura como para a democracia. Patriotismo não se cola aos colarinhos brancos, ainda que eloquentes uma vez em cada ano: vive, sim e apenas nos meios ecológicos do quotidiano dos que ensinam os verdadeiros caminhos do Pensamento e da Cidadania. O patriota não esconde a verdade da extensão pandémica, mas luta silenciosamente até ao limite (e há-os tantos, desconhecidos,  neste país) para vencer o vírus anti-humano que nos afoga.

Para nossa desdita e necessária responsabilização, quase sempre o verdadeiro Patriota serve-se morto. Citando apenas a minoria: Camões, António Vieira,  Gomes Freire de Andrade –  e, entre nós, ilhéus de Machico, Francisco Álvares de Nóbrega, defensor da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade, desde os séculos XVIII e XIX. Tal como em França, Jeanne d’Arc, posta em pé de altar pela mesma sacro-patrioteira instituição que a queimou na fogueira!...

Aqui, também, se pode afirmar com plena verdade: O Patriota não nasce. O Patriota faz-se! Onde quer que estejas, és Portugal, se o quiseres!

 

05.Out.20

Martins Júnior    

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