Pela
pandemia também se caminha. E muitas são as ressonâncias e muitos são os
testemunhos de quem, por esse mundo fora, descobriu clareiras de optimismo e
esperança no estreito percurso epidemiológico que nos tem sido dado calcorrear
no silêncio dos dias e no abandono das noites longas.
Algo também ocorreu na noite de 8 e no
dia 9 de Outubro de 2020. A cidade de Machico pagou renda à pandemia. Milhares
de romeiros ficaram em casa, o cortejo processional foi mais reduzido em número
para dar mais brilho ao cenário sempre nostálgico e sempre deslumbrante dos 200
archotes nas mãos de homens da terra e do mar. A própria chuva, intermitente a
compasso, acompanhava os acordes plangentes da filarmónica. E até o natural
bulício após o cortejo finou-se nas
pregas da noite. Tudo junto dava a sensação que, como sói dizer-se, ‘já não há
milagres como antigamente’.
Mas, ao fim de tudo, alguém – um dos
populares atentos ao acontecimento, ‘com olhos de ver’ - dirigiu-se ao responsável do acto religioso e
aí, frente a frente e de viva voz, interpretou o sentir geral da comunidade
participante: “Hoje, houve um milagre em Machico”.
Qual? – nem serei eu a dizê-lo. É um
pequeno ‘enigma’ que desafio cada qual a
decifrar. Para lanterna no caminho, dou aquela pista que anteontem deixei, ao citar
o teólogo Torres Queiruga: “Nada é milagre e Tudo é milagre”.
E
acrescento: assim como o investimento. que pode incorporar-se tanto em iniciativas
empíricas, palpáveis, visíveis (estradas, betão, indústria) como em pessoas e
valores supra-materiais, assim também o chamado milagre não se esgota nos limites do físico concreto e orgânico,
por mais impressionáveis que nos pareçam. Há também o milagre nas pessoas, nas
mentalidades, na metamorfose dos espíritos, quer individuais, quer colectivos.
E estes, por serem mais profundos e intimistas, não serão menos esplendorosos.
Neste pequeno caixilho insere-se o grande
feito, chamemos o milagre, ocorrido
em 8 e 9 de Outubro/2020, em Machico. Descobri-lo, eis o desafio.
09.Out.20
Martins Júnior
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