quarta-feira, 25 de novembro de 2020

QUEM DOMESTICA A PAN-DOMÉSTICA VIOLÊNCIA?

                                                                        


Na Sala Oval desta Casa Comum, de mil recantos e em cada um deles milhões de assoalhadas, outros tantos subterrâneos e alcovas clandestinas, ressoam gemidos e gritos, ora fragosos, ora abafados sem eco, que a tornam uma  global e assombrada caixa de pandora.

À mesa de jantar, reluzem os talheres do egoísmo, parte-se a baixela de porcelana hipócrita, abocanhando cada qual a sua posta maior no orçamento. Mordem-se os dedos e os cotovelos, sem um naco de pudor, para esconder a carne nos bolsos e deixar os ossos aos que vierem depois.

Nas paredes da cozinha escorrem as lágrimas das cozinheiras de todo o mundo, estala o gaz da revolta dos que produzem ricas ementas para os senhores DDT, ficando elas e eles de mãos encarquilhadas à espera das migalhas que sobram do festim.

Nas caves-subterra, os escravos gemem para fazer polir o chassis, a bagageira, o tejadilho do ‘juguar’ milionário – e eles, irmãos dos proletários de todo o mundo, quem os defende, quem lhes dá hipótese de aliviar os pés calejados e nus?

Nos logradouros do palácio, de um lado clareiras de orquídeas em prados verdejantes. Do outro, o deserto imenso sem sombra de oásis, o chão ressequido, ingrato e duro, onde afogam até à exaustão os famélicos foragidos da guerra. A violência bilateral serpenteia entre a opulência e a escravidão, aguardando a paz ou a insurreição.

No mais recôndito da alcova doméstica, lugar do amor nascente e producente, o cutelo da traição destrona o abraço originário. Pagam os mais frágeis, na face das mulheres e no grito lancinante das crianças. Venha alguém, do fundo do abismo ou do mais alto dos céus e proclame a Nova Ordem Mundial: ”Casais de todo o mundo, uni-vos|”!

 Na Grande Sala do Selo, reúnem-se sigilosamente os “monstros” do G5, do G7, de todos os ‘Gs’ e na ponta do aparo com que subscrevem os tratados de paz e de comércio começa o estampido dos morteiros de guerra. É a violência em casa sua!

E se houver cruz e altar  na Sala Global, até aí a ditadura das mitras e dos barretes dogmáticos  esmaga com anátemas de maldição e tortura os jovens bandeirantes de um Mundo Melhor.

E tudo é violência. Pandémica violência  porque, pior que o Covid, alastra por tudo quanto existe. Doméstica violência planetária!

Quem a domestica?...

Parafraseando: Não perguntes à Casa Comum o que pode fazer por ti. Pergunta, antes, o que podes tu fazer pela Casa Comum?!

Pela Anti-violência!

 

25.Nov.20

Martins Júnior   

Sem comentários:

Enviar um comentário