Na
Sala Oval desta Casa Comum, de mil recantos e em cada um deles milhões de
assoalhadas, outros tantos subterrâneos e alcovas clandestinas, ressoam gemidos
e gritos, ora fragosos, ora abafados sem eco, que a tornam uma global e assombrada caixa de pandora.
À
mesa de jantar, reluzem os talheres do egoísmo, parte-se a baixela de porcelana
hipócrita, abocanhando cada qual a sua posta maior no orçamento. Mordem-se os
dedos e os cotovelos, sem um naco de pudor, para esconder a carne nos bolsos e
deixar os ossos aos que vierem depois.
Nas
paredes da cozinha escorrem as lágrimas das cozinheiras de todo o mundo, estala
o gaz da revolta dos que produzem ricas ementas para os senhores DDT, ficando elas
e eles de mãos encarquilhadas à espera das migalhas que sobram do festim.
Nas
caves-subterra, os escravos gemem para fazer polir o chassis, a bagageira, o
tejadilho do ‘juguar’ milionário – e eles, irmãos dos proletários de todo o
mundo, quem os defende, quem lhes dá hipótese de aliviar os pés calejados e nus?
Nos
logradouros do palácio, de um lado clareiras de orquídeas em prados verdejantes.
Do outro, o deserto imenso sem sombra de oásis, o chão ressequido, ingrato e
duro, onde afogam até à exaustão os famélicos foragidos da guerra. A violência
bilateral serpenteia entre a opulência e a escravidão, aguardando a paz ou a insurreição.
No
mais recôndito da alcova doméstica, lugar do amor nascente e producente, o
cutelo da traição destrona o abraço originário. Pagam os mais frágeis, na face
das mulheres e no grito lancinante das crianças. Venha alguém, do fundo do
abismo ou do mais alto dos céus e proclame a Nova Ordem Mundial: ”Casais de
todo o mundo, uni-vos|”!
Na Grande Sala do Selo, reúnem-se
sigilosamente os “monstros” do G5, do G7, de todos os ‘Gs’ e na ponta do aparo
com que subscrevem os tratados de paz e de comércio começa o estampido dos
morteiros de guerra. É a violência em casa sua!
E
se houver cruz e altar na Sala Global,
até aí a ditadura das mitras e dos barretes dogmáticos esmaga com anátemas de maldição e tortura os
jovens bandeirantes de um Mundo Melhor.
E
tudo é violência. Pandémica violência porque, pior que o Covid, alastra por tudo
quanto existe. Doméstica violência planetária!
Quem
a domestica?...
Parafraseando:
Não perguntes à Casa Comum o que pode fazer por ti. Pergunta, antes, o que
podes tu fazer pela Casa Comum?!
Pela
Anti-violência!
25.Nov.20
Martins Júnior
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