De
cada vez que se liga o televisor ou se abre um diário, parece que a máscara já
não nos serve de nada. Para apanhar com tantos zeros no nariz (são dezenas, centenas, milhares, até
milhões) temos de nos prevenir com cotonetes, capacetes, couraças, cortiços e vespeiros,
tais são os obuses noticiosos que as
hordas covídicas arremessam desaforadamente dentro do nosso
próprio aposento. São os hospitais, os testes, o tormento dos pacientes, a
fadiga dos profissionais e, sobretudo, as amarras com que nos prendem de pés e
mãos, contra as quais nem nos defende a Constituição da República, apesar das
liberdades, direitos e garantias aí consagrados.
Hoje,
porém, (e mercê da ‘prisão domiciliária’ a que estamos sujeitos) surgiu uma boa nova: o espectáculo – neste caso,
mais precisamente, o ‘anti-espectáculo – a que nos habituaram as grandes pugnas
futebolísticas, chamadas ´derbis’ ou ‘clássicos’ dos rectângulos, que de verde
só têm a relva. Anti-espectáculo, digo
eu, porque, na realidade, hoje felizmente fomos poupados àquele furacão visual
de cabeças acéfalas (passe a propositada antítese) de cabelos eriçados e pestanas
fumegantes, mais agressivas que as hordas covídicas,
mais escaldantes que o alcatrão que pisam e, o que é mais solene e
vulcânico, a necessidade da escolta de policiamento armado e blindado, não vá a arena andante
desintegrar-se e acabar tudo em forcados de rua…
Repito:
hoje, a luta foi apenas dentro das quatro linhas. Lutaram as chuteiras, os
orgulhos, os cifrões, os donos da bola, os seus patriotas, seus patrioteiros e patriotarrecas
– diria o nosso Eça - mercenários do desporto mercantil. Estão no seu direito. E
para isso são pagos. Hoje, foi jogo ‘puro e duro’. Parabéns aos atletas e seus
mestres de ofício. Não fora Sua Majestade o Covid e
teríamos dentro de casa cenas indiciárias, como a que a gravura, acima, documenta.
Noutra área de combate, mais nobre na sua fonte e mais decisiva na sua foz, projectam-se também dentro de casa cenários de outra luta, essa sim, que deveria mexer connosco, essa em que somos actores, espectadores, comissários. E, em 24 de Janeiro, seremos árbitros. É a campanha eleitoral, uma “quadratura do círculo” onde o terreno resvala, nalguns casos, para duelos excedentários, senão mesmo grotescos e deprimentes.
Hoje,
porém, foi-nos dado VER (com maiúsculas, para quem teve olhos de ver) um gesto
de altíssima nobreza de um Estadista-candidato enaltecendo uma Candidata-com
perfil de estadista, ambos concorrentes ao mesmo pódio - o Prof. Marcelo Rebelo
de Sousa e a Diplomata Dra. Ana Gomes. Ao receber em Belém o português Tiago
Guerra que acabava de ser reabilitado
pela Justiça Timorense, o nosso Estadista-candidato destacou o prestigioso
contributo dado à vitória judicial pela Diplomata Dra. Ana Gomes, sua
concorrente ‘adversária’ na corrida a Belém.
Belo
exemplo de campanha eleitoral, sem no entanto prescindir da argumentação e das
convicções em litígio perante os objectivos a alcançar.
Falta
aqui Francisco Álvares de Nóbrega, o Nosso “Camões Pequeno”, para reescrever e
dedicar aos dois eminentes vultos citados os versos que escreveu há mais de
duzentos anos:
“Das Almas Grandes a Nobreza
é esta”!
15.Jan.21
Martins Júnior
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