E passada a noite inteira
Em rixas e confusões
Só saíu na quarta-feira
A trupe dos foliões
Porque a lei cá na
Madeira
É obra de novos vilões
Decretada a tolerância
Haja entrudo em
abundância!
Quem abriu logo logo
O bacoco trapalhão?
Uma virgem corta-fogo
Que só tem este senão:
Arara do demagogo
Cordeirinha do patrão
Tacão alto esverdeado
Chanel/prada é o seu calçado
Naquele teatro de rua
Vai uma cena macaca
Um santo que andava na
lua
Enfim mudou de casaca
Por azar ou falcatrua
Agora entrou na matraca
Que dá milho e dá milhões
No albergue de eleições
Neste corso estranho e
vário
Há um herói das maçarocas
Aprendeu no oceanário
A nadar com as doces
focas
Hoje é plenipotenciário
De todos os mares e docas
Neptuno Imperador
Das ilhas Adamastor
Mas quem vai num
altar-mór
Que até parece o Orago
De toda a ilha em redor?
Oh Milagre de São Tiago
Que sendo santo menor
Fez a façanha de um mago:
De um sapinho descendente
Pô-lo em alto presidente
Lá vão os três
pastorinhos
Os três do mesmo tamanho
Cristãos-novos
laranjinhos
Conversos judeus de
antanho
Chilreiam como melrinhos
Felizes por este ganho:
‘Éramos adversários
Hoje somos secretários’
Vão todos cantando e
rindo
Passo certo sem falhar
Oh que corso farto e
lindo
Era assim com Salazar
E olha quem vai dirigindo
Esta orquestra singular:
Sancho Pança bata branca
Testada na Zona Franca
Enche a praça lés-a-lés
Apupando ‘testa,testa’
E se vacina só dez
Bufa mil e faz a festa
Com tanto tiro nos pés
Sobe-lhe a pólvora à
testa
E o povo grande poeta:
‘Precisas de uma dieta’
Carregado de seringas
E mais água oxigenada
Vai picando de relingas
A multidão chateada
‘Olha lá se nos respingas
Vai daqui uma rajada
Deixa-te de carnaval
Vai tratar do hospital’
Quase que se espatifava
O corso monumental
Quando uma voz funda e
cava
Estremeceu o Funchal:
‘A coisa tá muito brava
Pára-se com o arraial
Amanhã venham mais cedo.
Ou pensam que tenho medo?!...
17.Fev.21
O
Mesmo Espectador sem Senso nem Consenso
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