Olhem quem vai acolá
Um pintor sem ser artista
Traz o robe de um rajá
O colar é de ametista
E na testa um alvará:
‘Sou eu o Patrão Turista
Encho tascas e hotéis
De boys,
girls e reis.
Mas o rosto é carregado
De uma mágoa bem antiga:
‘Fui corrido escorraçado
Por uma bruxa inimiga’
“Mas volta, estás perdoado”
A bruxa tornou-se amiga.
Cultura e salamaleques
Só leio livros de cheques’.
Agora abaixem, montanhas
Vinde ninfas do calhau,
Cabelos teias de aranhas
Entram num cara-de-pau
E esventra das entranhas:
‘Sou eu o Al-Qué-Mau,
Eu é que sou o poder
Nenhum outro pode haver’.
Olhos de ave nocturna
Os dentes cor de laranja
A mão mole e taciturna
Com um só dedo se arranja
E se alguém lhe nega a urna
Na vigia faz-lhe a canja
Erectus
dos
tempos idos:
Tem orelhas…sem ouvidos
Fala fala a todo o pano
‘Venham todos ter comigo
Sei que pareço um cigano
Mas a quem for sem abrigo
Eu resolvo com o piano
Dou tudo aquilo que digo
Até às almas piedosas
A Capela das Babosas’.
É um trono mais que alegórico
Que o transporta no carro
Vilão bobo folclórico
Chamou-lhe um anão do charro
E fez este voto histórico:
‘Mas tu tens os pés de barro,
Vai cair o Rei Otário
No Carnaval ao Contrário’.
‘Deixem-se vocês de lérias
Eu aqui sou o mandarim
Se lá fora não há férias
Cá tudo depende de mim
Venham fantoches galdérias
A bacanal não tem fim’.
Não
há p’rigo do Covid
Para ele tenho outra pide!
‘Eu é que sou o poder
Os outros a oposição
Gritem mais forte a valer
Este é o hino da nação
Eu é que sou o poder
Os outros a oposição’.
O povo não respondeu
O hino desvaneceu
E o Rei Otário morreu…
21.Fev.21
Martins Júnior
Porque é Carnaval, não se leve a mal.
Mas, porque é “Carnaval ao Contrário”, deve-se mesmo levar a bem. “Ridendo
castigo mores”.
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