domingo, 21 de fevereiro de 2021

ÚLTIMO CORSO DE UM CARNAVAL AO CONTRÁRIO”… E que continua!

                                                                      




Olhem quem vai acolá

Um pintor sem ser artista

Traz o robe de um rajá

O colar é de ametista

E na testa um alvará:

‘Sou eu o Patrão Turista

Encho tascas e hotéis

De boys, girls e reis.

 

Mas o rosto é carregado

De uma mágoa bem antiga:

‘Fui corrido escorraçado

Por uma bruxa inimiga’

“Mas volta, estás perdoado”

A bruxa tornou-se amiga.

Cultura e salamaleques

Só leio livros de cheques’.

 

Agora abaixem, montanhas

Vinde ninfas do calhau,

Cabelos teias de aranhas

Entram num cara-de-pau

E esventra das entranhas:

‘Sou eu o  Al-Qué-Mau,

Eu é que sou o poder

Nenhum outro pode haver’.

 

Olhos de ave nocturna

Os dentes cor de laranja

A mão mole e taciturna

Com um só dedo se arranja

E se alguém lhe nega a urna

Na vigia faz-lhe a canja

Erectus dos tempos idos:

Tem orelhas…sem ouvidos

 

Fala fala a todo o pano

‘Venham todos ter comigo

Sei que pareço um cigano

Mas a quem for sem abrigo

Eu resolvo com o piano

Dou tudo aquilo que digo

Até às almas piedosas

A Capela das Babosas’.

 

É um trono mais que alegórico

Que o transporta no carro

Vilão bobo folclórico

Chamou-lhe um anão do charro

E fez este voto histórico:

‘Mas tu tens os pés de barro,

Vai cair o Rei Otário

No Carnaval ao Contrário’.

 

 

‘Deixem-se vocês de lérias

Eu aqui sou o mandarim

Se lá fora não há férias

Cá tudo depende de mim

Venham fantoches galdérias

A bacanal não tem fim’.

                  Não há p’rigo do Covid

Para ele tenho outra pide!

 

‘Eu é que sou o poder

Os outros a oposição

Gritem mais forte a valer

Este é o hino da nação

Eu é que sou o poder

Os outros a oposição’.

 

O povo não respondeu

O hino desvaneceu

E o Rei Otário morreu…

 

21.Fev.21

Martins Júnior

Porque é Carnaval, não se leve a mal. Mas, porque é “Carnaval ao Contrário”, deve-se mesmo levar a bem. “Ridendo castigo mores”.

 

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