Com
o madeirês confinamento a meio-gás, esta nossa Ilha é rica em tradição e
inovação para consumo interno. Desde o “ir a maio” e o brejeiro “saltar a laje”
até ao São Tiago Menor (que neste ano 500 de culto ficou em dobrada
abstinência), tudo é festança ou miniatura dela. Pelo meio, fala-se no Dia do
Trabalhador e no São José Operário. E talvez o melhor e mais sustentável fica
de fora. Respiguemos um pouco da História:
O
Dia do Trabalhador teve a sua origem na luta dos operários mártires de Chicago,
em 1886. O Dia de São José Operário instituiu-o a Igreja Católica por
iniciativa do Papa PioXII, em 1955, para
‘tapar’ ou sacralizar o 1º de Maio, apanágio (que não monopólio) dos regimes de
esquerda. O Dia do “Voto e Procissão da
Cidade” vem desde 1521 quando, por
sorteio, a edilidade de então nomeou São Tiago Menor Padroeiro principal do
Funchal na luta contra a epidemia que
dizimou milhares de vidas.
Na
Madeira assentou arraiais a Festa de São Tiago Menor. Neste Quinto Centenário
do “Voto” ou Promessa, projectam-se iniciativas várias, entre as quais a famosa
procissão entre a Sé e a igreja do Socorro (Santa Maria) a inauguração de uma
nova imagem do Santo e, ainda, a viagem das relíquias (duas, diz-se) do mesmo
Padroeiro, desde Roma até à Madeira, com itinerância garantida por todas as
paróquias da Região.
Mas
o que confrange as mentes mais atentas e apouca a autenticidade do culto ao
Bispo de Jerusalém é a ligeireza de trato, quase sonegação tácita, da Carta que
o homem escreveu ao seu povo. E porque vem mesmo a calhar neste dia da
dignificação do trabalho, o 1º de Maio, vou transcrever alguns excertos que
apontam de forma veemente para a instauração de um regime de justiça
distributiva, sem exploração do homem sobre outro homem, advento de uma sociedade
igualitária. Deixemos que a sua mensagem entre directa e limpa dentro de nós:
Atenção, irmãos: Não andeis com esse jogo duplo de querer
conciliar a fé em Jesus e, ao mesmo tempo, fazer descriminação de pessoas. Vou
dar-vos um exemplo: Suponhamos que entra na vossa assembleia, na igreja, um
homem com anéis de ouro e bem trajado. Entra também um pobre muito mal vestido.
Vós, dirigindo-vos ao que está magnificamente trajado, dizeis: ‘Amigo, chega-te
mais e vem sentar-te aqui neste lugar confortável”. E ao pobre dizeis: ‘Tu ficas aí, de pé’ ou
então ‘Senta-te no chão, abaixo do meu estrado”. Vedes como fazeis descriminação entre vós
próprios, desprezais o pobre. E isso é pecado. Porventura não são os ricos que vos
oprimem e vos arrastam aos tribunais?... Não são eles que blasfemam o belo nome
que sobre vós foi invocado?... (cap.2,
1-8).
Mais
adiante, assim brada o Bispo Tiago, verdadeiro pastor que defende o seu povo e
cujas vestes (diria o Papa Francisco) tem o cheiro do rebanho:
E vós, ricos, o que tenho a dizer-vos é o seguinte: As vossas riquezas estão podres e
as vossas vestes faustosas já estão comidas pela traça. O vosso ouro e a vossa
prata enferrujaram-se e a ferrugem devorará a vossa carne como o fogo. Porquê? –
perguntais vós. E eu respondo: Porque não pagastes o justo salários aos trabalhadores
que ceifaram os vossos campos! Esse salário está a clamar todos os dias. E
ficai sabendo que os clamores dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do
Universo. Vós explorastes e matastes o pobre e achais que Deus não vai opor-se
contra isso?!... (cap.5, 1-6).
Estaremos
despertos e vigilantes ao longo das comemorações dos 500 anos de culto a São
Tiago Menor. E vamos guardar, interiorizar a sua Carta.
01.Mai.21
Martins
Júnior
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