Escrever em cima da água corrente ou ‘como quem canta
ao vento que passa’ – é o que se me ocorre hoje perante a notícia de que em São
Vicente da Madeira ficará jacente e cada vez mais emergente o espólio do génio criador chamado António Aragão.
A mágoa maior é a morte, não a física e
visível, mas o universo invisível, intocável, a que comummente se chama
património imaterial, que alguém viveu, sofreu, gozou, galvanizou – e deixou! A
força semântica do “DEIXOU” só ganha
verdade e autenticidade se houver quem queira receber e segurar o legado
transmitido. No caso em apreço, urge
dizer: “Até que enfim, após décadas de recusas, reticências e ostracizações
governamentais face à produção multiforme de António Aragão, a sua obra tem o
merecido trono no “Solar da Ribeira Seca”, na dita freguesia de São Vicente .
Neste breve texto quero apenas
aproximar a toponímia “Ribeira Seca – Solar”, em São Vicente, de um outro topónimo “Ribeira Seca”, em Machico.
Por muito encomiástica que signifique a homenagem a António Aragão, em São Vicente, a verdade é que o meio eco-cultural popular que António Aragão descobriu foi a Ribeira Seca, de Machico. Recordo-me do esforço magnânimo de António Aragão e Artur Andrade na pesquisa e gravação in loco das tradições e rimances populares, fruto da oralidade secular, os quais já estão reproduzidos no melhor disco até hoje produzido sobre a genuinidade do cantar madeirense.
Parabéns
aos promotores e aos artífices desta justa e bem merecida homenagem.ao enorme,
gigante António Aragão!
29.Jun.21
Martins Júnior
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