domingo, 27 de junho de 2021

JUSTIÇA DISTRIBUTIVA E IGUALDADE DE OPORTUNIDADES – UM IMPERATIVO EVANGÉLICO

                                                                              


O palco é rectangular, igual para todos. A bola - redonda, igual para todos. As mesmas medidas, as mesmas balizas, as mesmas marcas de grande penalidade, o mesmo relvado, os mesmos juízes, igualitários para ambas as partes, o mesmo ‘placard’ insensível e austero, igual para todos. Enfim, é o que se chama e personifica o nobre e justo princípio da “Igualdade de Oportunidades”.

Trago esta aproximação, aparentemente imprópria, para ilustrar, hoje precisamente, a mensagem que o Grande LIVRO pretende comunicar a todos os estádios da história humana. Em Sevilha, também poderá ler-se, hoje mesmo, e traduzir-se essa mensagem, de um lado tão cristalina e lógica, como tão longe de corporizar-se no campo das sociedades de todos os tempos.

IGUALDADE DE OPORTUNIDADES!

Limitar-me-ei a transcrição dos textos, deixando o volume das conclusões à consideração de quem os ler:

“O que sobra na vossa mesa é o que falta na mesa de outros…Fizestes bem em colaborar nessa campanha de solidariedade, porque um dia podem inverter-se as circunstâncias, isto é, quando sobrar aos outros e vos faltar a vós… Não se vos exige reduzir-vos à miséria para aliviar os outros, mas o objectivo necessário é este: a IGUALDADE!... Assim vaticina a Escritura: Àquele que muito colheu e muito ganhou, nada lhe sobejou. E àquele que pouco colheu, nada lhe faltou” (Paulo aos Coríntios, II, 8, 7.9.13-15).

É de uma latitude incomensurável este elogio que Paulo de Tarso faz aos cidadãos de Corinto. Estaríamos no melhor de todos os mundos: ninguém teria necessidade de olhar as mãos alheias para matar a fome. Viveriam todos do seu trabalho, do seu talento, do seu esforço acumulado e só em caso de anomalias pontuais agiriam as estruturas sociais para normalizar a comunidade. A este propósito, convém citar o nosso romancista, dramaturgo e observador crítico Almeida Garrett, nas Viagens na Minha Terra, no longínquo ano de 1846:

“Eu pergunto aos economistas, aos políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?”. Responde Viriato Soromenho Marques: “Em 2014, um super-rico correspondia a  41.760.000 infelizes”.

TODOS DIFERENTES E TODOS IGUAIS!

A Igualdade, porém, não se alcança sem lhe integrarmos o seu complemento indissociável: a Diferença. Porque é essa a condição humana. Nem se esgota no pão, na mesa, no salário. Igualdade é árvore de múltiplos e variegados troncos, de poli-dimensionados ramos. De género, de côr, de cultura, de crença, de clima, de idade. É precisamente no trato da Diferença que emerge o brilho e agiganta a grandeza da Igualdade.

Sem mais delongas, o nosso Líder e Mestre revela-nos à evidência a Unidade na Diversidade, condição sine qua non para a construção de uma sociedade genuinamente igualitária. Analisemos Marcos, 5, 21-43:

Em presença simultânea, como diante de um júri solene, três estatutos, intrínseca e extrinsecamente, distintos: Primeiro, um Chefe da Sinagoga, chamado Jairo, pertencente à elite judaica. Segundo, uma mulher, subalternizada na cotação social da época e, para cúmulo, indigna de permanecer entre a multidão por uma incurável disfunção hemorrágica; Terceiro, uma criança de doze anos no leito da morte.

O popular Nazareno (popular, porque colado e comprometido com o povo da sua terra, marginalizado pela Sinagoga) teria uma oportunidade de ouro para provar a sua oposição ao autoritário poder judaico, consignado em Jairo. Quanto à mulher, por óbvias restrições sanitárias, poderia ‘esquecê-la’ e nisso ganharia a anuência geral. A criança, de doze anos, entraria no rol dos “párvulos”, já mortos. Na opinião dos circunstantes, “não valeria a pena perder tempo com ela”.

No entanto e contra todas as previsões comportamentais, o Mestre tratou-os a todos por igual: ao Chefe Jairo serenou-lhe o ânimo, à mulher restituiu-lhe a saúde e à menina restaurou-lhe a vida. Todos diferentes e todos iguais! Na Diversidade de estatutos, de géneros e de níveis etários, manteve-se a mesma Igualdade de abordagem e satisfação comum.

  Por aqui me quedo na letra, mas muito mais longe vai o paralelo entre o LIVRO de hoje e os regimes que vigoram nas famílias e nos indivíduos, nas nações e nas instituições, inclusive no Império da(s) Igreja(s).

É da Escritura: Digam o que disserem, perante Deus, uma só coisa é necessária, a Igualdade! De direitos e deveres! Em síntese: Igualdade de Oportunidades!

 

27.Jun.21

Martins Júnior

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