Seja
qual a sua extensão, à Cultura pode bem acoplar-se o velho brocardo latino – Bonum est diffusivum sui – o Bem comunica-se
e difunde-se por si próprio, com em sistema de vasos comunicantes. Todos o sentem e raros são os que não dão
pela corrente energética quando ela passa à sua beira. É assim o Bem, é assim a
Cultura.
Vem
esta breve introdução a propósito de um movimento circular, auto-reprodutivo e contagiante que em terras de Tristão Vaz
cresce de dia para dia. Embora sem preocupações inaugurais e, por vezes, sem a
merecida atenção dos agentes da comunicação regional, o certo é que têm sido
consistentes os passos dados ao nível da Cultura, nos seus mais diversificados
cambiantes. Desde a música à poesia, desde o desporto ao teatro e à estatuária, desde a inspiração genuinamente
popular à construção mais elaborada por parte das entidades locais, é de uma
evidência indesmentível a proliferação de iniciativas, monografias, cerâmicas e
azulejarias, quer no domínio da literatura infanto-juvenil, quer no âmbito da investigação
erudita, de que são paradigma os “Anais do Município da Antiga Vila de Machico”
de José António de Almada, e "Profeta –
Um lobo marinho explorador“, da professora Ana Paula Spínola, recentemente
editados pela Câmara Municipal.
Dir-se-ia
que o ingrato terreno da pandemia não impediu, pelo contrário, fez emergir em
Machico a sua ancestral vocação cultural, na esteira do grande “Camões Pequeno”
Francisco Álvares de Nóbrega que, há mais de dois séculos, mesmo algemado nas
masmorras do Limoeiro, sob o ferrete da Inquisição, escreveu os melhores sonetos
que chegaram aos nossos dias.
Por
todo este rasto de luz, o concelho mais oriental da Madeira, com toda a
justiça, exceptuando o Funchal, merece o honroso título de “Capital Regional da Cultura”.
A
confirmar este roteiro valorativo da terra e do povo, perpassa na opinião púbica
local que a Junta de Freguesia de Machico, para assinalar o Dia histórico do
Achamento da Ilha, em 2 de Julho, prepara a reedição da obra em epígrafe, “AQUELE
ESPESSO NEGRUME – MACHICO E MACHIM NA ALVORADA DA ILHA”.
Para
o signatário deste ‘Senso&Consenso’ trata-se
de um episódio reconfortante, um misto de juventude e de saudade, ao recordar
que um punhado de jovens estudantes respondeu à minha proposta de investigarmos
a obra de cronistas, historiadores, poetas e dramaturgos que se debruçaram
sobre esse Dia e essa Epopeia do Desembarque de Tristão e Zargo na baía de
Machico, em 2 de Julho de 1419.
Enquanto
autarca da Junta de Freguesia, mesmo sem quaisquer apoios das entidades
hierarquicamente superiores, conseguimos enfeixar num único volume excertos
preciosos de Zurara, Francisco Alcoforado, João de Barros, Damião de Gois,
Francisco Manuel de Melo, Jerónimo Dias Leite, Gaspar Frutuoso, Manuel Tomás, Henry
Major, Medina de Vasconcelos, Álvares de Nóbrega, Reis Gomes.
Corria
o ano de 1982. Não obstante os ventos contrários então reinantes, o barco da
escrita onde navegava tão prestigiante ‘marinhagem’ (os autores citados) chegou
aos herdeiros dos Descobridores.
Parabéns
antecipados à Junta de Freguesia de Machico, na pessoa de Alberto Olim e seu prestimoso
elenco autárquico, pela iniciativa que
esperamos ver concretizada, pelo culto de uma tradição que vem de longe e,
sobretudo, pelo viço jovem de fazer reviver, 40 anos volvidos, a vitalidade
criadora de um povo.
Aos
jovens de ontem, hoje cidadãos adultos, obreiros de um Machico Novo, o abraço de
um reencontro promissor nos horizontes sempre renovados. Transcrevo, com
redobrado entusiasmo, a mensagem escrita há quatro décadas:
“Que as páginas de
antanho sejam caminhos de hoje! Que as letras de ontem sejam braços de agora,
transportados em nosso corpo! Também somos chamados a escrever no chão positivo
da vida a História do nosso querido Machico”!
21.Jun.21
Martins Júnior
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