Em
cada semana mergulhamos sempre no refluxo das marés vivas que umas vezes nos
remexem pedras e areias tidas como assentes, outras vezes despertam ânsias de
desbravar mares ignotos. Tudo se passa no domínio recôndito do nosso
consciente.
Para ilustrar o que acabo de enunciar,
chegam-nos às mãos as esclarecedoras páginas do LIVRO, lido e comentado
largamente hoje e amanhã. Basta compulsar o relato de Marcos, capítulo IV para
nos darmos conta das correntes e contracorrentes que se entrecruzam dentro de
nós.
Atravessavam o Mar de Tiberíades quando
se soltaram os furores da tempestade. Os Doze gritavam e protestavam contra o
seu Mestre que dormia à popa da lancha: “Estamos
a afogar-nos e Tu ficas para aí a dormir?”. Imperou então a magia do
Nazareno que mandou calar os ventos e amainar as ondas revoltas. Portento!
Fenómeno! Mistério! “Quem será este homem
a quem os ventos e os mares obedecem?”
Após a bonança, sobra para nós um mar
de incertezas. O Universo rege-se por leis naturais, as do Criador, que incluem
catástrofes, maremotos, monstruosas aluviões que roubam vidas inocentes. Terá a
Divindade o poder executivo de fazer suster tragédias tamanhas?... De ‘emendar
os erros de fábrica’ da Criação?... É neste nódulo que confluem pareceres e
definições de teólogos e escrituristas na análise intrínseca daquilo que
designamos por “milagre”. Não serei eu a decifrá-lo, mas a grande dúvida emerge,
imediata, enérgica, unívoca: “Então por que não exerce hoje o Nazareno (a
Divindade) o seu potencial salvífico para evitar o genocídio que os elementos
naturais provocam ao longo da história?!...
Enquanto
tardam as respostas, vão engrossando os cortejos quase supersticiosos de ‘promessas’
e respectivos pagamentos, os quais em pouco diferem das sortelhas e sortilégios
que os crentes vão buscar às bancas dos aprendizes de feiticeiro…
Amainada
a tempestade, o Nazareno dá-nos um certeza, quando verbera nos Doze a falência
de um valor essencial àquela viagem: “Qual
a razão de tanto medo?... Onde está a vossa Fé?”.
Chegámos
ao promontório de uma certeza. Por muitos e fáceis cambiantes com que possa
apresentar-se o fenómeno Fé, há um sublinhado assertivo que o Mestre assinala
nos seus prodígios: “Foi a tua Fé que te
salvou!”. Como quem reconhece os “direitos de autor” e os devolve ao seu
legítimo dono, o Mestre insiste que nos conteúdos da Fé entra o imprescindível
contributo do crente - a sua força anímica, a sua coragem inquebrável, o seu
empenho sem tréguas. Numa palavra, todo o seu Ser!
Nas
jornadas que ora decorrem no Funchal, sob o genérico “Festival Mental”, descobrem-se
sementes de Esperança, vitaminas de Personalidade, células de uma Fé holística que nos remete
para o pensamento do denominado “Pai da Europa”, São Bento, desde o século VI: “Primeiro, faz tudo como se tudo dependesse
de ti. Depois, só depois, espera tudo como se tudo dependesse de Deus”!
19.Jun.21
Martins Júnior
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