sábado, 19 de junho de 2021

ENTRE UM MAR DE DÚVIDAS E O PROMONTÓRIO DA CERTEZA

                                                                         


           Em cada semana mergulhamos sempre no refluxo das marés vivas que umas vezes nos remexem pedras e areias tidas como assentes, outras vezes despertam ânsias de desbravar mares ignotos. Tudo se passa no domínio recôndito do nosso consciente.

         Para ilustrar o que acabo de enunciar, chegam-nos às mãos as esclarecedoras páginas do LIVRO, lido e comentado largamente hoje e amanhã. Basta compulsar o relato de Marcos, capítulo IV para nos darmos conta das correntes e contracorrentes que se entrecruzam dentro de nós.

         Atravessavam o Mar de Tiberíades quando se soltaram os furores da tempestade. Os Doze gritavam e protestavam contra o seu Mestre que dormia à popa da lancha: “Estamos a afogar-nos e Tu ficas para aí a dormir?”. Imperou então a magia do Nazareno que mandou calar os ventos e amainar as ondas revoltas. Portento! Fenómeno! Mistério! “Quem será este homem a quem os ventos e os mares obedecem?”

         Após a bonança, sobra para nós um mar de incertezas. O Universo rege-se por leis naturais, as do Criador, que incluem catástrofes, maremotos, monstruosas aluviões que roubam vidas inocentes. Terá a Divindade o poder executivo de fazer suster tragédias tamanhas?... De ‘emendar os erros de fábrica’ da Criação?... É neste nódulo que confluem pareceres e definições de teólogos e escrituristas na análise intrínseca daquilo que designamos por “milagre”. Não serei eu a decifrá-lo, mas a grande dúvida emerge, imediata, enérgica, unívoca: “Então por que não exerce hoje o Nazareno (a Divindade) o seu potencial salvífico para evitar o genocídio que os elementos naturais provocam ao longo da história?!...

Enquanto tardam as respostas, vão engrossando os cortejos quase supersticiosos de ‘promessas’ e respectivos pagamentos, os quais em pouco diferem das sortelhas e sortilégios que os crentes vão buscar às bancas dos aprendizes de feiticeiro…

Amainada a tempestade, o Nazareno dá-nos um certeza, quando verbera nos Doze a falência de um valor essencial àquela viagem: “Qual a razão de tanto medo?... Onde está a vossa Fé?”.

Chegámos ao promontório de uma certeza. Por muitos e fáceis cambiantes com que possa apresentar-se o fenómeno Fé, há um sublinhado assertivo que o Mestre assinala nos seus prodígios: “Foi a tua Fé que te salvou!”. Como quem reconhece os “direitos de autor” e os devolve ao seu legítimo dono, o Mestre insiste que nos conteúdos da Fé entra o imprescindível contributo do crente - a sua força anímica, a sua coragem inquebrável, o seu empenho sem tréguas. Numa palavra, todo o seu Ser!

Nas jornadas que ora decorrem no Funchal, sob o genérico “Festival Mental”, descobrem-se sementes de Esperança, vitaminas de Personalidade,   células de uma Fé holística que nos remete para o pensamento do denominado “Pai da Europa”,  São Bento, desde o século VI: “Primeiro, faz tudo como se tudo dependesse de ti. Depois, só depois, espera tudo como se tudo dependesse de Deus”!

 

19.Jun.21

Martins Júnior

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