Foi preciso chegar ao coração do mês-coração-do-ano
para encontrar aí no meio uma nesga de almofada onde reclinar o coração do
mundo. Olhando em redor, o que mais se tem visto e sentido é uma quase paralisia
geral que traz o indivíduo e a sociedade tolhidos, sufocados, numa palavra,
confinados.
No entanto, algo de novo veio reanimar
as artérias geladas do planeta, a começar pelo nosso próprio país. As recentes e
felicitantes notícias que a UE nos trouxe através de Ursula von der Leyen
fizeram pulsar o ânimo dos portugueses na reconstrução global que o nosso Plano
de Recuperação e Resiliência mereceu das
instâncias europeias.
Seria, porém, redutor ficarmo-nos
apenas pelo “sol na nossa eira e chuva no nosso nabal”. Moramos numa planície
mais vasta, redonda e de múltiplas e tão diversificadas latitudes. Nunca
estaremos bem se outros estiverem mal. Por isso, o que se passou anteontem em Genebra
não pode deixar-nos indiferentes. Se os estertores lunáticos de Donald Trump contra tudo e contra todos abalaram-nos até à
medula dos ossos, na mesma e maior medida a Cimeira entre Biden e Putin tiveram a força de um desfibrilhador
taumatúrgico a relançar um novo e saudável ritmo para o coração da humanidade.
Não é este o lugar para dissecar os
contornos, os gestos, os silêncios ou as reticências deste encontro histórico.
Nem tão-pouco proclamarei loas super-optimistas acerca do mesmo, porque o
futuro, sobretudo, em política, é feito mais de dúvidas que de certezas.
Todavia, dois incisivos indicadores sinalizaram
as mais de três horas de diálogo.
O
primeiro, este precisamente, bem expresso na afirmação de Joe Biden: “Não há substituto para o diálogo
frente-a-frente”. Tão diferente e abissal do que nos fora dado pelo anterior
neurótico, com punhos tribais, ameaças, espuma pelos maxilares abaixo…
Justamente pelo diálogo, os dois representantes, Biden e Putin, deixaram claros os seus propósitos, sem
hibridismos cinzentos, como de resto demonstraram as duas declarações finais,
em separado.
O
segundo, a nova ponte entre EU e EUA. Basta compulsar as tentativas – umas disfarçadas,
outras despudoradas – de fragmentar a unidade dos 27, após a instigação
americana no processo do Brexit. Agora,
porém, com Joe Biden, deixará de pesar o monstro todo-poderoso que ameaçava
minar os alicerces de uma Europa.Unida.
Finalmente, como cereja em cima do bolo, a
revelação, hoje difundida pelos órgãos de comunicação de todo o mundo: O Senado
norte-americano aprovou a data de 19 de
Junho como novo feriado nacional, em
memória do 19 de Junho de 1865, o Juneteenth,
no Texas, que culminou todas as intervenções do
presidente Abraham Lincol para considerar
homens e mulheres livres os escravos afro-americanos.
No
mundo conturbado e soturno em que vivemos, o mês de Junho, a meio do ano 2021,
trouxe no coração, entre 15 e 16, uma nesga de luar e, talvez, a alvorada de um
Dia Novo – também para nós, ilhéus. Saibamos ler a mensagem desta hora, que
dela bem precisamos!
17.Jun.21
Martins Júnior
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