Quem
queira argumento apetecível para protagonista de um filme heróico tome os galões que compõem
o título acima e logo terá trama suficiente para um sucesso (também se diz best-seller) de bilheteira. Dessa mesma
substância se alimentam os episódios que avolumam a personagem ideal dos ecrãs:
Louco,
porque não consegue comer nem dormir, assediado pelos que lhe batem à porta a
pedir socorro. Demónio vivo, aos olhos dos carrascos todo-poderosos, porque o
bem que faz ultrapassa as raias do humano normal, do política-e-socialmente correcto.
Estranho, porque ao egoísmo étnico sobrepõe valores mais altos que a mediania
omnívora.
Tudo
isto qualquer argumentista pode encontrar no texto que no domingo passado
serviu de mote a milhões de comentários
e escrituristas, cada qual à sua maneira. Vem no LIVRO e quem o narra é Marcos,
capítulo 3, 20 e sgs.. É bem o retrato fidedigno do Nazareno nos melhores e nos
piores entalhes do seu quotidiano.
Quem
viu o extraordinário musical Jesus-Christ
Superstar, de Andrew Llyd Webber , tocou-lhe de certeza a azáfama trepidante do Mestre,
afogado na multidão de homens e mulheres que o seguiam avidamente, esperando
dele não só pão para a boca mas sobretudo alento de espírito para as suas
sedes, lenitivo para as suas mágoas. E com tal premência que não havia tempo de
comer ou de dormir. A própria família convenceu-se que Ele tinha perdido o
controlo de si mesmo, enfim, que estava doido varrido. Depois, os doutores da
lei, escribas, fariseus, sumos-sacerdotes orquestraram uma campanha capciosa
(hoje diríamos, tipo máfia religiosa) para neutralizar o imenso sucesso do
Mestre na cidade e nas aldeias circunvizinhas, injectando no povo o boato de que
Ele tinha pactos satânicos com Belzebu e era, absolutamente, o demónio em traje
humano. Finalmente, quando a “Mãe e os irmãos”
vieram ao local para retirá-Lo do meio
toda aquela gente que o rodeava mais que a um deus, Ele não conteve a
indignação e respondeu como quem subalterniza a própria família biológica – “Afinal, quem é minha Mãe, quem são os meus
irmãos?” – para recolocar em lugar cimeiro a família sociológica, a família
ideológica, todos aqueles que cultivam os valores da vida e da solidariedade.
Não
se esgotou no “Ano 33” a saga heroica do Nazareno. Ela repete-se, Ele está em agonia até ao fim dos tempos, bem
definiu Blaise Pascal. Muitos foram os
homens e mulheres que, no seu tempo e lugar, subiram a mesma encosta pedregosa,
sem comer nem dormir, atirou-lhes o Status Quo os nomes mais insultuosos,
desde estranhos, loucos e demónios. Só porque agiram como família
ideo-sociológica do Líder Jesus de Nazaré.
O
que acima trago escrito, faço-o como imperativo de consciência e afecto ao
nosso Herói, Padre Mário Tavares Figueira. Fez ontem um ano que o seu corpo se foi.
Tudo o mais ficou connosco. O seu espírito, a sua abnegação sem limites, a sua inteira
doação às causas e à Casa-Comum. Também lhe atiraram os mesmos insultos – só porque
fez o bem, só porque deu a mão aos que a injustiça e a exploração obrigavam a
rastejar. Recordámo-lo aqui na Ribeira Seca, à mesma hora em que em Câmara de
Lobos era evocada a sua memória.
Ele
também ficará connosco até ao fim dos tempos !!!
07.Jun.21
Martins Júnior
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