No
Dia Mundial do Ambiente prolonga-se e confirma-se o Dia Mundial da Criança, um
tríptico cronológico, 1-3-5, que nos transporta para a simetria perfeita entre
uma e outra sinonímia e que me inspirou o título deste blog de fim-de-semana: o Ambiente é uma Criança.
E é-o, em toda a linha, porque no
ambiente ecológico mais puro, tudo se renova, tudo renasce, desde as
profundezas do oceano até à magnitude da esfera celeste. Mas, no jogo mais
íntimo dos contrastes, não será menos certo afirmar que a Criança é o Ambiente,
se por Ambiente condensarmos todos os segmentos e valências em que o homem nasce
e cresce, desde a sua concepção no silêncio uterino do seio materno.
Nesta mais ampla semântica ambiental,
relacionada com a criança, tem sido paisagem idílica, emotiva - repetida e
diferida por todo arquipélago da Madeira e Açores – que dá pelo nome
sacro-romântico de “Primeira Comunhão”. Optei por este qualitativo, porque todo
o ritual que envolve o acontecimento exala um perfume de encanto primaveril, em
que a criança é rainha e a flor a sua dama-de-honor, grinaldas infantis e os
pais em volta, formando o séquito de pajens improvisados. É, sem dúvida, a
aliança mais genuína entre o sagrado e o romântico.
Mas há quem não se deixe ficar
embevecido na envolvência etérea do Tabor ou na revoada tangente do cenário
primo-comungante. Por mais estranho que pareça, eu estou nesse grupo. Vejo algo
mais além da beleza ternurenta dos neo-comungantes. Vejo e quase toco em plena
evidência empírica a grande incógnita da pedagogia da Criança, no seu sentido
holístico, em que se integra a educação espiritual, também designada educação religiosa.
Sou daqueles que não se contentam com liturgias baptismais de bebés, com especiosas
logísticas de Primeiras Comunhões ou com o ‘mestrado’ dos Crismas
apa/amadrinhados. Recordo a judiciosa observação de um bispo, algures no
continente português, acerca desta mesma questão: “Colegas (falava aos bispos
presentes) não nos iludamos: o Sacramento do Crisma é, para grande parte dos
jovens, a porta de saída da Igreja. Desaparecem, E se voltam é só para serviços
pontuais e esporádicos”.
O que decididamente me preocupa não é o
acesso à Mesa Comunitária, bem como o espectáculo que a rodeia. O que importa,
acima de tudo, é o que fica na substância daquele ‘Pequeno-Grande Ser’ que acede
ao acto sacramental, ou seja, o conteúdo
espiritual que deixe a Criança serena,
segura e feliz. E mais: que ela deseje voltar ao convívio fraterno e interprete
o sagrado, dentro dos limites da sua capacidade intelectiva, sem temores e sem
ilusões.
É
grande o perigo. Por experiência própria, garanto que é mais fácil dar uma aula
ao 11º/12º ano do que dar uma catequese esclarecida e à medida de uma Criança.
Porque se há campos propícios às chamadas fakenews,
a religião ou as religiões são dos mais férteis. Muito cuidado e muita
ponderação quando se fala do sagrado! A este propósito, cito Vittorino
Andreoli, em “AO LADO DAS CRIANÇAS”: “Para
a Criança, todo o mundo é mistério e cada ensinamento pode assumir as características
de uma mensagem sagrada”.
Descendo
ao chão da vida, jamais esquecerei o desabafo de uma das mães dos
neo-comungantes: “O mais importante disto tudo é transmitir valores às crianças”.
Volto a citar o mesmo Autor: “A Religião ou o contacto com Deus não devem
ser limitados ao âmbito restrito da missa dominical ou da oração em caso de
necessidade, mas como trama de todo o tecido da vida”. Aqui entra a
mundividência dos valores.
Ao
ouvir aquela mãe, gente do povo, ocorreu-me a Carta Pastoral da Conferência
Episcopal Portuguesa, em 6 de Janeiro de 2002, onde refere que “a educação
religiosa deve lançar as bases sólidas para os valores espirituais e humanos,
onde se aprende a ser pessoa e viver em relação comunitária e em espírito de serviço
ao homem à sociedade”. Na mesma direcção,
poderia desdobrar outras tantas propostas que me preocupam na pedagogia
espiritual dos mais novos. No entanto, prefiro trazer o testemunho de quem,
antes de mim, teve as mesmas intuições transformadoras:
“Se a paróquia (Igreja)
conseguisse comunicar o princípio evangélico de comportamento humano, cumpriria
uma função diria quase terapêutica em relação a uma sociedade como a nossa,
demasiado cheia de individualismo, narcisista e esquecida das oportunidades que
o facto de pertencer a uma comunidade de exercer o direito ao amor e ao perdão
oferece”. (Vittorino Andreoli).
No
Dia Mundial do Ambiente, eis uma preocupação e um anseio perante o encantamento
das Crianças convidadas à Mesa Eucarística, na esperança de que cresçam e se
desenvolvam numa plena atmosfera de espiritualidade saudável.
05.Jun.21
Martins Júnior
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