Antes
que a Madeira-Ilha tivesse nascido para a história, já os nascituros herdeiros
e futuros ocupantes se apressaram a bradar desde as entranhas da terra: “A
Região é Nossa! Portugal, Rua! Autonomia! Autonomia!!!
É este o hino que, em estridente
cacofonia, gritam os actuais possessores, capitães donatários, no 1º de Julho
de cada ano. Nem esperaram que os marinheiros do Senhor Infante desembarcassem na
baía de Machico. À tripa-força, tinham de chegar antes de Tristão e Zargo
implantarem bandeira e padrão das Descobertas. Tal o afã cego, que até
subverteram os cronistas Gomes Eanes de Azurara, João de Barros, Francisco Alcoforado, os historiadores Jerónimo
Dias Leite, Gaspar Frutuoso e, mais perto de nós o pioneiro “Patriota
Funchalense” que, desde o século XIX, ostentou no seu frontispício a histórica
data de “2 de Julho.
Tudo isso, porém, não passaria de um
atabalhoado e teimoso concurso de efemérides em jogos florais, se a Autonomia nada
tivesse a ver connosco. Mas tem. E muda tudo. Sobretudo, a nossa atenção.
AUTONOMIA é connosco, é contigo, é
comigo. É com todos – desde o mais condecorado herói até ao mais despido e
descalço pescador, agricultor, homens e mulheres da Ilha. Somos nós – cada um
de nós! – os constituintes de toda e qualquer Autonomia Ilhoa. É em cima das
nossas costas vergadas que os “oradores” oficiais, agora fogosos autonomistas,
fazem o palco para esganiçarem inflamados discursos autonómicos.
Somos. Portanto os responsáveis
primeiros de tudo quanto se diz ou permite dizer sobre Autonomia. Sem nós,
nunca os ditos paladinos insaciáveis teriam direito a abrir a boca sobre o
assunto. Por isso mesmo, compete-nos saber como e quando nasceu a Autonomia, os
seus progenitores, os seus parteiros e ferramenteiros, os seus donos, patronos,
herdeiros e procuradores. E, ainda mais, os seus usufrutuários.
Tarefa longa, é certo, mas tanto quanto
subsumível neste sumário breve que, como prometido, passarei a elencar
sucintamente:
1º - A AUTONOMIA das Regiões (Madeira e
Açores) nasceu com o “25 de Abril de 1974”, consagrada constitucionalmente em
1976. Nunca o regime do Estado Novo, de Salazar e seus serventuários consentiu
a emancipação autonómica das chamadas “Ilhas Adjacentes”.
2º - Progenitores originários da
Autonomia foram, lógica e cronologicamente, os corajosos “Capitães de Abril”.
Sem eles, a Autonomia nunca passaria de uma miragem. Em contraponto, na Madeira
os fanáticos defensores do Estado Novo eram inimigos ferozes do “25 de Abril”.
3º - Quem se apressou a agarrar, de pés
e mãos, a Autonomia que acabara de nascer?
Aqui é que começa o fadário dessa
mimosa Criança, filha do coração de Abril, a verdadeira Autonomia do Povo
Madeirense, a tua, a minha, a nossa! Por mais estranho que pareça, os “parteiros”
oficiosos da Autonomia (que logo a perfilharam e registaram como sua)) foram –
pasme-se! – dois ‘polícias’ do antigo regime que, sem um pingo de pudor, depressa
despiram a farda salazarenta e travestiram a pele de democratas e autonomistas.
Foram eles: um bispo lisboeta, colado até à medula ao governo do Estado Novo (“aos
ministros de Salazar eu trato-os por tu”, ouvi eu da sua boca) e um jovem de
péssimo currículo académico, protegido do regime e, por isso, acérrimo e
assumido propagandista de Salazar, das suas estruturas político-persecutórias e das colónias ultramarinas.
(Continua)
07.Jul.21
Martins Júnior
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