segunda-feira, 5 de julho de 2021

“A COROA DO ILHÉU”

                                                                            


Deixei, por hoje, no congelador da falésia o prometido “parto da Autonomia” e acompanhei a romaria ascendente dos amigos de RIGO até ao pico alto sobranceiro à baía, onde todos juntos coroámos o verde ondulante com a tão graciosa quão majestosa “COROA DO ILHÉU”.

Não foi inauguração nem quanto se lhe pareça. Foi um cântico de congratulação – genuíno, transparente e com um sabor a sal marinho – que nos fez abraçar em redondel de emoções o esforço, a persistência, a alma daquelas tábuas, daquele mastro altivo e daquela vela aberta, lençol materno que a todos aquece  e a todos põe na mesa o pão que vem do mar.

Erguido como em merecido trono, depois de tanto porfiar os mares, a COROA DO ILHÉU agora desafia os ares, obedecendo ao astrolábio dos corações vigilantes que têm por ritmo a nobre ambição de ir ‘Mais Alto e Mais Além’.

                                                         


Como então esclareceram os ‘carpinteiros navais’ de muitas mãos e de maiores talentos – jovens, designers, poetas e músicos, artífices populares, homens e mulheres que calejaram os dedos ao longo de muitos meses, capitaneados pelo ‘arrais’ RIGO - aquela nau jacente, desde o tombadilho ao cavername, desde a proa até  à popa, perpetua memórias centenares desta ilha, epopeias milenares de navegantes heróicos de todas as latitudes na demanda do desconhecido. 

Embora não geminadas em burocracia timbrada, o certo é que me senti ali balanceando o ânimo entre duas populações gémeas à nascença: Câmara de Lobos e Machico, a que junta o Caniçal e a cuja ‘companha’ me honro de pertencer.  

Doravante, a COROA DO ILHÉU olhará a fímbria do horizonte, mergulhará os fundos oceânicos e lá dentro alguém há-de reviver a grandeza e a tragédia do mar, evocando o génio de Fernando Pessoa:

“Ó Mar Salgado,

Quanto do teu Sal

Também são Lágrimas…

De Câmara de Lobos, de Machico, do Caniçal!”

 

‘NAVEGAR É PRECISO’ !!!

05.Jul.21

Martins Júnior

 

 

1 comentário:

  1. Sim. Navegar é preciso e tão imprescindível nos nossos dias. Que a vela da "Coroa do Ilhéu" seja sempre esse lençol de memórias, essa sentinela de ver mais longe, olhar além da fímbria do horizonte. Parabéns ao RIGO, às gentes do mar e ao autor deste texto.

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