Quem
transpôs os umbrais do Olimpo ganhou a imunidade perfeita – a imunidade
perpétua dos deuses. “Nada os demove ou aflige” – diz o escritor sacro do
‘Livro da Sabedoria”. Nem o sopro de um fonema, nem um canto triunfal, nem a
sombra de um avantesma com que, aqui por baixo, ‘o povo néscio se engana’ e se
faz e desfaz.
Quem
franqueou esse portal da Liberdade definitiva, - intemporal e incorpórea– só lhe basta ter
subido, por mérito próprio, ao trono das
Olimpíadas da História. Tudo o mais deixou, à entrada. Tudo o mais entregou à
força da gravidade para gáudio ou para pasto entre os mortais, pobres
condenados às galés do tempo.
OTELO
SARAIVA DE CARVALHO!
Não
precisa de mais nada para ser Grande. Ele subiu ao pódio da eternidade, onde
não chegam os ecos dessa batracomiomaquia
estridente e suicida em que se devoram os humanos como em ninho de lacraus.
Carregou
aos ombros cinquenta anos de trevas e transformou-as em “Alvorada de Abril”;
transportou nos braços corpos de jovens mortos e mutilados em terras coloniais
e estancou a hemorragia de gerações de um país; apertou ao peito a angústia de
centenas, milhares de presos nos ‘tarrafais’ da ditadura e abriu-lhes os
portões da liberdade; misturou às suas as lágrimas dos familiares das vítimas;
devolveu respiração e fala a um povo amordaçado, enfim, limpou a face desfigurada da Nação Portuguesa
e restituiu-lhe perante o mundo inteiro o brilho da sua renovada juventude.
Ele,
o Herói, o Estratega, o Arquitecto de um Portugal Novo!
Ele,
sendo o íman e epicentro da Revolução Maior, consubstanciou-se num mesmo tronco
solidário e co-responsável – os “Capitães de Abril”!
Ele,
sentinela vigilante dos rumos e desvios da Ideia Matriz, ardendo em fogo
transparente e militante para que se cumprisse sempre Abril em Portugal!
Ele,
Homem do Povo, em 1976, ao lado do imortal ZECA AFONSO, cantando em Machico a
“Grândola, Vila Morena”, empolgando a multidão.
Ele,
em 2012, na Ribeira Seca, coração do vale de Tristão Vaz, com Francisco Fanhais
e Janita Salomé, trauteando com os rurais a canção emblemática desta “Terra de
Abril”:
Festa, Festa do Povo,
Do Povo que trabalha
E faz o mundo novo!
Mais
12 horas… e Otelo será uma revoada de cinzas nos céus de Alcabideche. Nos céus
de Portugal. Nos céus do Mundo. Ele dispensa todos os louros com que possamos
coroar-lhe a fronte. E esfumam-se na atmosfera todos os vitupérios que pretendam atingi-lo. Porque ganhou a imunidade congénita dos deuses do Olimpo.
Nós
é que precisamos dele. Ontem, Hoje e Amanhã.
Situados
na colina do Tempo, uma única hipótese de índole analéptica e retrospectiva
analítica fará renascer o Protagonista de Abril
em cada encruzilhada da História:
Que
seria Portugal, desde o ano 1974 – além “desta vil, nossa prisão servil” - se não tivesse surgido no horizonte nacional o
Libertador de nome OTELO SARAIVA DE CARVALHO?!
Por
razões circunstanciais e óbvias, não estarei no seu funeral. A que junto uma
razão maior: Não estarei, porque OTELO não morreu !!!
Quando se fizer a História do nosso Portugal haverá sempre um "Antes de Otelo" e um "Depois de Otelo". Porque haverá sempre um "Antes" e um "Depois/25 Abril" !!!
27.Jul,21
Martins Júnior
Parabéns .Excelente texto. Abraço de Manuel Duran Clemente Cor. Ref ;cap de Abril.Amigo há anos de Rodrigo Trancoso. Abraço.
ResponderEliminarHistória, comoção e fidelidade perfazem a dimensão universal deste texto. Apenas, como nota de rodapé, acrescentaria: sobre os homens maiores recaem a fortaleza da emoção e da dignidade, as únicas armas, para a grande rentrée no Olimpo dos deuses da liberdade.
ResponderEliminarLúcido e poético texto.
ResponderEliminarTive a honra e o privilégio de estar na Ribeira Seca em 2012
É um privilégio conviver com o sr. Padre José Martins Júnior. O Capitão de Abril de Machico e da ilha! Belo texto e testemunho vivo!
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