- Dou graças ao Pai,
porque vos deu força e coragem para me seguirdes durante três dias
ininterruptos… Gente boa e generosa que vós sois… Em verdade vos digo: já
tendes o céu garantido… E agora elevai as vossas mãos, cantai comigo, se a voz
vos der, e parti para as vossas casas, esfomeados mas abençoados por Deus
Todo-Poderoso. E se algum de vós sucumbir na viagem la estarão os anjos,
serafins e querubins à sua espera nas portas do Paraíso..
Este
é o relato de um eventual Evangelho apócrifo, que faz a delícia de muitos
devotos, cristãos piedosos, confessores, reverendos eclesiásticos, desde o
sacrista ao pontífice.
Mas
assim não fez Jesus. Pelo contrário, declarou perentoriamente:
- Tenho pena desta gente
que me segue há três dias. Não posso deixá-los assim. Se os mando para casa,
correm o risco de morrer de exaustão pelo caminho. E tu, Filipe, e vós, discípulos
meus, ordeno-vos terminantemente: dai-lhes de comer, distribuí esses cinco pães
e dois peixes por todos, até ficarem satisfeitos. E, depois, recolhei os pedaços que sobrarem, para que
nada seja desperdiçado”.
Esta
narrativa, contada por João, capítulo VI, já não agrada tanto aos devotos
supra-mencionados. Até criticam: “O que é que Jesus tem a ver com a fome daquelas
cinco mil pessoas?... E que obrigação tem de lhes dar pão?... O que Jesus tem a
fazer é ensinar a rezar, fazer sacrifícios e receber ofertas”.
Mantendo
o compromisso hebdomadário de consultar o LIVRO, respiguei o presente episódio,
sem mais comentários, além de Paulo aos Coríntios: “O que sobra na vossa mesa é o que falta na mesa de outros. É preciso
que haja igualdade entre todos, e é o que dita a Escritura Sagrada”. E o
Papa Francisco: “Há quem não queira sujar
as mãos com a pobreza alheia. Mas é
necessário, imperativo”.
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Distribuidores
do pão – eis a tarefa de todo o ser humano, ao longo da história. À cidade e à
aldeia, ao domicílio e à pessoa singular. Há-os, aos milhares, distribuidores
do pão, na maioria gente anónima e, em minoria, “aqueles que da lei da morte se
vão libertando”. E são tantas as espécies do pão, - material, pedagógico,
espiritual - pão holístico que mata as, também diversas, fomes que pululam pelo
mundo.
Com o
pundonor e a contenção que a hora exige, trago hoje dois exemplares púbicos,
ícones imarcescíveis de distribuidores daquele Pão que nos sustenta como Povo e
que tantas vezes subestimamos:
Do Pão da Solidariedade
Insular – Professor Virgílio Pereira!
Do Pão da Liberdade
Nacional – Otelo Saraiva de Carvalho!
25.Jul.21
Martins Júnior
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