Deram-me
as prosaicas musas esta inspiração de fazer associar a Autonomia ao mês do “ditador
perpétuo” Júlio César, o imperador romano
que deu nome a Julho, o sétimo do ano. Estranha e contraditória coincidência,
uma vez que, desde a nascença, Autonomia opõe-se à ditadura. Não terá sido por
mero acaso que o “ditador perpétuo” morreu, na própria assembleia do plenário do Senado, às mãos dos representantes do Povo Romano, os
senadores.
Através
de provas e testemunhos presenciais deixei manifesto em escritos anteriores que
as ambições autonómicas, com que os quarentões (quase cinquentões) detentores
do poder pretendem entorpecer as populações, redundam em opulência de domínio
sobre as mesmas populações. E do que vi e ainda vejo na minha ilha mantenho a
amarga conclusão do último blog: Quanto
mais autonomia para eles, menos Autonomia para o Povo! Assim se constroem as
ditaduras. Basta pensar no sargento Hitler…
Então
qual a solução? Quem a tem? E Onde e Quando e Como?
Longo
percurso – ars longa vita brevis – que
atravessa gerações! Já o vaticinara o DR.Fausto,
de Goethe. Porque, no Palácio da
Autonomia, a chave de entrada e de saída está ao alcance dos seus
constituintes, o Povo. Está na mão do Povo: Onde e Quando o Povo quiser. É aqui
que brilha como estrela polar da história aquela inscrição de identidade
sociológica: “Cada Povo tem o governo (o país, a região, a cidade, a aldeia)
que merece”.
No
prolongado itinerário pelo parlamento regional, quantas e tantas vezes
balbuciava eu dentro do peito esta sentida petição: “Quem dera que estivessem
naquela galeria as pessoas que votaram nesta gente”! Se vissem ‘representantes seus’ repudiarem, amarfanharem,
esmagarem propostas válidas, promotoras da civilização e da Autonomia de todos
os madeirenses, sobretudo dos mais abandonados, aí abririam os olhos e poriam ordem
na Casa. Aí, os ditos ‘autonomistas’ aprenderiam o Código da genuína Autonomia!
Mas
não é fácil – com um misto de vergonha e maior decepção o digo. Também sonhei com o poder
efectivo e vigilante do Povo, não apenas
na urna do voto, mas na trajectória do seu exercício real, através dos eleitos.
Mais: entendia eu, então, que não era aos segregados, às élites, aos diplomados, aos capitalistas que deveria ser entregue a
defesa dos ‘humilhados e ofendidos’ da sociedade, os proletários e excluídos.
Deveriam ser eles próprios, as classes trabalhadoras o ocupar o seu lugar na Tribuna
do parlamento e à mesa do Orçamento.
Disse-o
publicamente e cumpri. Eleito em 1976, (corria este mesmo mês de Julho)
mantive-me como deputado durante três meses, após a sanha obstrutiva da
maioria-que-esmaga. De seguida, cumpri a palavra: cedi o lugar a um operário da
construção civil. Não entro em pormenores identificativos, por serem demasiado
esclarecedores. Vou ao essencial, que é o que, até hoje, faz-me corar de
desgosto e quase-vergonha: passados os quatro anos de mandato, o
operário-deputado já era o líder local do partido, meu arqui-inimigo!...
Explicações?! O homem era pobre, de poucas letras e de poucas lides. Do outro
lado, imaginem. Recorro à ‘Velha Senhora’ de Francis Durrematt: “Compra-se tudo”!
Mas
o poder de compra dos ditos ‘autonomistas’ atinge os letrados, os remediados,
os bem-falantes. Tive um vice, na presidência do município que, aproximando-se
o fim do mandato municipal e, coincidentemente, as eleições para o parlamento,
pretendeu ser candidato a deputado, ao que lhe respondi “não vamos abandonar o
barco, ficamos aqui até ao fim”. Dispenso-me de mais pormenores, embora
esclarecedores também. O essencial: o vice demite-se e…surpresa: mais tarde
aparece como deputado pelo partido, meu
arqui-inimigo… Sem mais comentários. Agora digam lá se não tem razão a ‘Velha
Senhora’- “Compra-se tudo”?!...
No
45º aniversário da Bandeira e do Hino, está visto que a ‘Velha Senhora’
reincarnou nesta autonomia. Banqueira do Povo, a ’Velha Senhora’ do dramaturgo
suíço comprou tudo na aldeia de Gullen: casas e casebres, mercearias, comboios,
farmácias, bombeiros, escolas, clubes, associações e até igrejas.
Mas
morreu. E Júlio César também, o ‘ditador perpétuo’ que baptizou o mês sétimo, o
da autonomia.
Longo
será o caminho. De gerações.
Mas
a AUTONOMIA VENCERÁ!
23.Jul.21
Martins Júnior
Boa noite D . Madalena adorei o seu blog .
ResponderEliminarPena não nos podermos fazer amigos dos blog.
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