quinta-feira, 23 de setembro de 2021

FOSSE EU FUNCHALENSE … E NÃO DEIXARIA QUE O OURO FOSSE PARAR ÀS MÃOS DE UM “BAN…QUEIRO” CALADO

                                                   


           Olho a ilha que, de todas, leva a Palma no arquipélago das Canárias

pela vegetação, clima e elegância natural – a mais parecida com a Madeira

– e fico apavorado com a lava vermelha afogando furiosa o verde de uma

paisagem paradisíaca. Estava ali, calado, assolapado, um vulcão justiceiro,

semeador de cinzas imprevisíveis.

Não é assim tão diversa da fenomenologia geológica a paisagem

sócio-política das sociedades, mui acentuadamente nas pequenas

comunidades ilhoas. É preciso detectá-los, a tempo, esses focos

desestabilizadores que, iguais aos eucaliptos devoradores, escavacam tudo

à sua volta. Esquecê-los ou assobiar inconscientemente para a pacatez

envernizada da sua tez pode custar caro.

Foi o semanário Expresso que sinalizou uma das muitas réplicas que

na pacata Madeira se têm repetido, com epicentro na dupla da Quinta Vigia

Albuquerque-Calado. Vale 9 milhões de euros, acrescidos de juros

vencidos e vincendos – o somatório de prejuízos causados às Câmaras

Municipais pelo “banqueiro do governo regional”, com a conivência ou a

mando do inquilino da Quinta. O caso – quase inexistente nos decanos da

nossa comunicação escrita – é de bradar até aos abismos e conta-se em três

ou quatro parágrafos:

 

1. Desde 2010, o governo retém nos cofres da Quinta os 9

milhões que deve entregar aos Municípios, verba resultante

dos 7,5% do IRS que a lei atribui aos executivos municipais.

2. Por reclamação das Câmaras, o Tribunal Administrativo do

Funchal sentenciou que fosse devolvida aos Municípios a

referida verba de 9 milhões de euros.

3. O secretário das finanças, qual banqueiro agiota, faz orelhas

de mercador e não entrega aquilo que lhe não pertence,

configurando um crime de desobediência qualificada.

4. Manobra falaciosa, cinzenta e avara: “vou recorrer para um

tribunal superior”.

 

Moralidade desta trama sem moral de espécie alguma: o “amor” que ele

tem ao poder autárquico!... Quem deveria entregar os 9 milhões, antes

mesmo que o poder judicial o obrigasse… e, depois de condenado, ainda

tem o requinte maquiavélico de esconder o dinheiro atrás de um biombo de

recurso. Desrespeito supremo pelo poder local, um comportamento que

deveria torná-lo, ética e politicamente, inelegível em todo o processo

autárquico!

Falo daquilo que ainda me dói, volvidas mais de duas décadas, sendo eu

presidente do concelho de Machico. E foi por isso que deixei hoje o meu

recanto de silêncio, porque a consciência cívica assim mo ditou.

É que eu passei pelo mesmo cabo tormentoso da ditadura financeira

imposta pela Quinta Vigia quando, faltando oito meses para novas eleições,

completei todo o processo de uma estrada construída ao abrigo de um

contrato-programa. Juntei o pouco dinheiro que havia, pedi aos

fornecedores que esperassem um pouco e paguei na totalidade ao

empreiteiro construtor da obra, aguardando que, nos termos da lei, o

 

governo regional me ressarcisse do investimento feito. Passaram-se dias,

meses e, por mais que reclamasse, nada me foi restituído. Só com a nova

presidência na Câmara, saída das eleições, é que foi entregue o dinheiro.

Então é que percebi a manobra ignóbil do então secretário das finanças:

aguardava ele que o PS perdesse a luta eleitoral e fosse o dinheiro parar às

mãos de um presidente PPD. Mas enganou-se. Machico votou, de novo,

PS.

Volvidas mais de duas décadas, o PPD/PSD reeditou o passado rasca da

sua tacanhez política. O ex-secretário das finanças e actual candidato, qual

vulcãozito adormecido, está ansioso e febril para ser ele próprio a receber

os milhões que pertencem à administração de Miguel Gouveia. Atávica

sordidez laranja: a infracção a beneficiar o infractor!

O que sugiro aos funchalenses é que façam o que fez Machico, isto é, que

quem vai à lã, matreiro e calado, dela saia tosquiado.

Se eu fosse funchalense não deixaria que o carcomido eucalipto da Quinta

tentasse secar tudo à sua volta, com a velha cábula: um só partido, uma só

farda, uma só autarquia na Madeira!

Fosse eu funchalense e o ouro não iria parar às mãos de um qualquer

“ban…queiro” agiota açambarcador!


23.Set,21

Martins Júnior

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