Olho a ilha que, de todas, leva a Palma no arquipélago das Canárias
pela
vegetação, clima e elegância natural – a mais parecida com a Madeira
–
e fico apavorado com a lava vermelha afogando furiosa o verde de uma
paisagem
paradisíaca. Estava ali, calado, assolapado, um vulcão justiceiro,
semeador
de cinzas imprevisíveis.
Não
é assim tão diversa da fenomenologia geológica a paisagem
sócio-política
das sociedades, mui acentuadamente nas pequenas
comunidades
ilhoas. É preciso detectá-los, a tempo, esses focos
desestabilizadores
que, iguais aos eucaliptos devoradores, escavacam tudo
à
sua volta. Esquecê-los ou assobiar inconscientemente para a pacatez
envernizada
da sua tez pode custar caro.
Foi
o semanário Expresso que sinalizou uma das muitas réplicas que
na
pacata Madeira se têm repetido, com epicentro na dupla da Quinta Vigia
Albuquerque-Calado.
Vale 9 milhões de euros, acrescidos de juros
vencidos
e vincendos – o somatório de prejuízos causados às Câmaras
Municipais
pelo “banqueiro do governo regional”, com a conivência ou a
mando
do inquilino da Quinta. O caso – quase inexistente nos decanos da
nossa
comunicação escrita – é de bradar até aos abismos e conta-se em três
ou
quatro parágrafos:
1.
Desde 2010, o governo retém nos cofres da Quinta os 9
milhões
que deve entregar aos Municípios, verba resultante
dos
7,5% do IRS que a lei atribui aos executivos municipais.
2.
Por reclamação das Câmaras, o Tribunal Administrativo do
Funchal
sentenciou que fosse devolvida aos Municípios a
referida
verba de 9 milhões de euros.
3.
O secretário das finanças, qual banqueiro agiota, faz orelhas
de
mercador e não entrega aquilo que lhe não pertence,
configurando
um crime de desobediência qualificada.
4.
Manobra falaciosa, cinzenta e avara: “vou recorrer para um
tribunal
superior”.
Moralidade
desta trama sem moral de espécie alguma: o “amor” que ele
tem
ao poder autárquico!... Quem deveria entregar os 9 milhões, antes
mesmo
que o poder judicial o obrigasse… e, depois de condenado, ainda
tem
o requinte maquiavélico de esconder o dinheiro atrás de um biombo de
recurso.
Desrespeito supremo pelo poder local, um comportamento que
deveria
torná-lo, ética e politicamente, inelegível em todo o processo
autárquico!
Falo
daquilo que ainda me dói, volvidas mais de duas décadas, sendo eu
presidente
do concelho de Machico. E foi por isso que deixei hoje o meu
recanto
de silêncio, porque a consciência cívica assim mo ditou.
É
que eu passei pelo mesmo cabo tormentoso da ditadura financeira
imposta
pela Quinta Vigia quando, faltando oito meses para novas eleições,
completei
todo o processo de uma estrada construída ao abrigo de um
contrato-programa.
Juntei o pouco dinheiro que havia, pedi aos
fornecedores
que esperassem um pouco e paguei na totalidade ao
empreiteiro
construtor da obra, aguardando que, nos termos da lei, o
governo
regional me ressarcisse do investimento feito. Passaram-se dias,
meses
e, por mais que reclamasse, nada me foi restituído. Só com a nova
presidência
na Câmara, saída das eleições, é que foi entregue o dinheiro.
Então
é que percebi a manobra ignóbil do então secretário das finanças:
aguardava
ele que o PS perdesse a luta eleitoral e fosse o dinheiro parar às
mãos
de um presidente PPD. Mas enganou-se. Machico votou, de novo,
PS.
Volvidas
mais de duas décadas, o PPD/PSD reeditou o passado rasca da
sua
tacanhez política. O ex-secretário das finanças e actual candidato, qual
vulcãozito
adormecido, está ansioso e febril para ser ele próprio a receber
os
milhões que pertencem à administração de Miguel Gouveia. Atávica
sordidez
laranja: a infracção a beneficiar o infractor!
O
que sugiro aos funchalenses é que façam o que fez Machico, isto é, que
quem
vai à lã, matreiro e calado, dela saia tosquiado.
Se
eu fosse funchalense não deixaria que o carcomido eucalipto da Quinta
tentasse
secar tudo à sua volta, com a velha cábula: um só partido, uma só
farda,
uma só autarquia na Madeira!
Fosse
eu funchalense e o ouro não iria parar às mãos de um qualquer
“ban…queiro”
agiota açambarcador!
23.Set,21
Martins Júnior
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