Refiro-me aos textos que o LIVRO – sempre a minha
inseparável estação hebdomadária - nos
oferece neste início de semana. E, em paralelo, a agitação palavrosa das
campanhas eleitorais. Há uma estreita consonância entre os dois, por mais
estranho que pareça! Ambos confluem no mesmo leito, como os meandros de um rio
se fundem na mesma corrente. Daí a questão
introdutória, que me proponho decifrar: “Quem
meteu a Bíblia na campanha eleitoral?”
1. A
democracia restituiu ao Povo a soberania. Todos se acham herdeiros e
administradores da sua porção democrática, para cuja posse canalizam esforços,
investimentos, finanças, altifalantes, palcos, redes sociais (e muitas ‘suciais’). Que pretendem? O poder,
ou seja, entrar na galeria dos poderosos. Com que armas? As melhores, as
piores, as directas e as clandestinas, os insultos, as calúnias e, nalguns
casos, a liquidação do adversário, arqui-inimigo. Abramos o Livro da Sabedoria,
capítulo II: Armemos ciladas ao justo,
destruamos o pobre que é, claramente, coisa inútil, vamos apertá-los com
ultrajes e torturas, até liquidá-los de vez, humilhando-os de morte vergonhosa.
A nossa lei é a força”. Nesta
refrega, dita democrática, estarão os candidatos ao poder vacinados contra a
prepotência do mais forte sobre o mais fraco? Será o seu culto a razão da força ou a força
da razão?!
2.
A volúpia do poder cega os ânimos. Os
interesses classistas – e quase sempre a sofreguidão egoísta mesclada de salpicadas
benesses para o povo - não conhecem fronteiras nem têm linhas vermelha. É a
sentença maquiavélica de que “os fins justificam os meios”. Leiamos, então, a Carta de Tiago, capítulo
III: “Essa estratégia e essa sabedoria
não vêm do alto, são terrenas, animalescas, demoníacas. Cobiçais e não
alcançais, por isso vos vingais e matais. A justiça é só fruto da paz”.
3.
Para aqueles que comem o seu e o
alheio, os que tudo querem açambarcar, aos quais não há mando que os farte, que
andam como saltimbancos a saltar de um trapézio para outro, doentes incuráveis
do poder total, do partido único, do lugar cimeiro entre todos os primeiros, só
lhes resta o estupefaciente de Marcos, capítulo IX:
“Entre vós, quem pretende ser o primeiro, seja o último e o servo de
todos”.
Sendo muitas as variantes da ânsia do poder (mais que as do covid/19) todas se encontram, para desencontrar-se,
neste tríptico vicioso em redor da urna de voto. Por isso, deixo ao livre curso
da vossa iniciativa a análise desses espécimes que tanto se podem circunscrever
ao meio restrito que habitamos como se alargam às mais altas esferas de comando
regional, nacional, mundial.
Foi pura coincidência da Liturgia a colocação dos textos citados
neste Domingo, mas as semelhanças entre as realidades descritas são verosímeis
e pesadas, porque atingem a muge do problema, qual seja o da preparação
propedêutica para exercer o poder. Nesse esforço de verdadeiro tirocínio global
entra a pedagogia da sensibilidade, da mundividência serena e corajosa, da
visibilidade sócio-cultural, económica e até espiritual das comunidades, cujo
temão todos os candidatos pretendem alcançar.
Em
jeito de conclusão, à pergunta “Quem
meteu a Bíblia na campanha eleitoral?”, aponho,
com mais vigor e pertinência, estoutra questão: “Quantos candidatos estarão dispostos a seguir o Manual de Pedagogia
Política que neste Domingo lhes ofereceu o LIVRO?”.
19.Set.21
Martins
Júnior
Justíssima reflexão. Também a fiz (não com tanta sabedoria), ontem, porque me indispõe tanta insensatez apregoada a todos os ventos por todos os quadrantes políticos que vociferam contra tudo e todos, mas não dizem que vão trabalhar para minimizar as assimetrias do nosso povo simples e ávido por justiça social e humana. Um abraço de amizade e gratidão ao P. Martins.
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