Sempre
o LIVRO!
Cada
galáxia tem o seu. E cada segmento ou grupo ou cavaleiro andante também o têm,
quer se chame Tora, Bíblia, Corão, manual, regimento ou bússola GPS. O meu
LIVRO de hoje – companhia inseparável de princípio e/ou fim de semana – reduz-se
a uma incógnita que, se não toca a
todos, mexe decididamente com o genoma de milhões de crentes e incrédulos de
todos os tempos. E quem no-la propõe é um mendigo, sem abrigo e, para cúmulo,
cego de nascença.
“O cego ouviu dizer que o
Mestre, Filho de David, passava ali junto do muro onde costumava sentar-se.
Atormentava-o o drama da cegueira e, maior que o desgosto, era o desejo
incontido de poder ver o mundo e as pessoas à sua volta. Começou a gritar por
socorro. Mandaram-no calar-se, mas ele
redobrava o volume e o tom da voz em desespero.. Depois, quando o Mestre o
chama, dá um salto, sem saber onde cair. Ajeitaram-no diante do Nazareno. E
naquela mesma hora, abriram-se de par em par as persianas dos seus olhos e o
cego saltou logo, mas de alegria eufórica, triunfante. Perante o assombro da multidão
rendida ao Messias, autor do portento, é o próprio Mestre que desvenda o enigma
e diz, alto e bom som, para o mendigo: “Foi a tua fé que te salvou”. (Marcos, 10).
Da
análise da narrativa, da resposta personalizada com que o Mestre esclareceu a multidão, resulta que o autor originário desta surpreendente terapia
foi o seu próprio beneficiário. ‘Não fui eu que fiz o milagre, foste tu que o
fizeste’. “Foi a tua fé”. ‘Se não
fosses tu, nada disto aconteceria! – é o que se depreende do texto.
E
a incógnita aí está: Que é isso de Fé – que
força é essa, capaz de dar vista a um
cego, reanimar um paralítico,
transportar montanhas?
Mas
a dinâmica do debate, pergunta/resposta do texto citado, não se esgota neste
episódio único. Percorre toda a actividade taumatúrgica do Mestre. É algo de
perturbador e, ao mesmo tempo, fascinante verificar que no epílogo dos “milagres”,
o Mestre remata sempre com o mesmo código interpretativo: Foi a tua Fé que te salvou. Por outras palavras: “O milagre
foste tu que o fizeste”.
Fico-me
por aqui. Chamem os biblistas, os psicanalistas, os hermeneutas e todos quantos
interpretam os livros e decifram os enigmas. Peçam-lhes explicação científica e
psicológica, suficiente ou mesmo aproximada, para tão ‘enviezada’ definição que
o Mestre dá dos seus feitos extraordinários em favor dos mais carenciados de
corpo e de espírito. Até no perdão à Madalena pecadora, disse-o claramente: “Foi a tua Fé”.
Que
Fé é esta?
Para
quem ler atentamente o texto de Marcos, 10 talvez descubra um postigo de visibilidade que o cego hoje nos traz.
23.Out.21
Martins Júnior
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