Entendam
quantos por aqui passarem: o que hoje deixo escrito não tem nada a ver com o Cântico Negro – ‘Não sei por onde vou, Sei que
não vou por aí’ – do grande José Régio, nem tão-pouco com as arremetidas
fanáticas dos iconoclastas da Reforma Luterana. Será antes um eco longínquo,
mas suficientemente audível, da mensagem de Paul Anka na canção que Frank
Sinatra imortalizou – My Way – desde 1969,
bafejada pela vaga libertadora do Maio/68.
Faço-o, hoje, porque - mais que pelo
Sonho – pelo Espectáculo é que Vamos.
Displicentemente o digo, muito embora respeitando o teor da canção que qualquer indivíduo e qualquer
instituição têm o direito de cantá-la e chamar sua: This is My Way. Todos podem repeti-la.
O “Espectáculo” a que me refiro e que
tem ocupado as redes de informação bifurca-se em dois palcos distintos: em Lisboa,
Portugal soberano, através dos seus principais titulares, colocou no trono do
Panteão um Homem comum que salvou cerca de 30.000 vidas humanas e, por isso, foi
imolado no cadafalso do fascismo luso. Na Madeira, idêntica homenagem é
prestada, cinco séculos volvidos, a um canonizado Taumaturgo, de nome Tiago,
que terá erradicado o vírus da peste no Funchal e, daí, ter sido tirado ‘às
sortes’ em 1521 para patrono da cidade, embora, como judiciosamente assinalou o
escritor Padre José Luís Rodrigues na sua página, a peste tenha persistido durante
anos posteriores.
Tem a Instituição Eclesiástica o
direito de opção protocolar e de proclamar o seu My Way, ostentando garbosamente por toda a Madeira e Porto Santo o
símbolo escultórico imaginário do referido Taumaturgo sorteado, com banda musical
altifalante e até com privilégio de “pernoita” em certas estações paroquiais,
assim reza o Programa.
No entanto, há os sinais, porque toda a
Ideia e todo o Espectáculo manifestam-se e projectam-se através de sinais: uns,
mais concretos e realistas, digamos que ‘ao vivo’; outros, os que sugerem e
sintetizam a mensagem; e ainda os últimos, os que dispensam a fotocópia
empírica e quase desaparecem para dar lugar ao ‘dentro mais dentro’ da Ideia e à
essência da Pessoa.
No âmbito desta plenividência, há os
Sinais dos Tempos. E constata-se que cada Tempo tem o seu tempo e os seus Sinais,
tudo dependendo dos utentes espectadores, que historicamente provam este
axioma, datado e selado por milénios de experiência: Quanto mais atrasado é um
povo, mais precisa ele de sinais
concretos, empíricos e palpáveis, em ‘carne viva’, se possível. Já o próprio
Mestre da Galileia censurava por isso os seus conterrâneos. Pelo contrário, quanto
mais evoluída é uma comunidade, menos se embaraça com o objecto fac-símile e prefere a transparência
invisível (a antítese é propositada) do conteúdo. Esta é a realidade, queiramos
que não queiramos!
E é este o Nosso Tempo. É este o seu
Sinal: cada vez mais tendem a desaparecer as montanhas de papel burocrático, os
estafetas ambulantes, os correios epistolares, para dar lugar à síntese
tecnológica, à comunicação em rede, até no domínio das transferências financeiras, o próprio bitcoin, numa palavra, a Era do Digital.
No limite, direi em sintaxe cósmica, cada vez há menos corpo e mais Espírito. Não
foi por uma lapso de memória nem por veleidade poética que o mesmo Líder Nazareno
afirmou às multidões: “A carne não serve
de nada. O Espírito é dá Vida. As Minhas palavras são Espírito e Vida”!
Reiterando
o respeito pelas opções de todo o indivíduo e de cada instituição, a minha
mensagem, hoje, é tão simples a filosofia popular: Se “quem semeia ventos colhe
tempestades”, quem espalha relíquias colhe epitáfios, quem cultiva carne espere
por esqueletos ao fim da linha. E quem semeia Espírito ganha Eternidade!
Aristides
Sousa Mendes não tem no Panteão nem um pó de cinza sua. Mas ele será eterno,
enquanto o Mundo for Mundo!
21.Out.21
Martins Júnior
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