Foi o LIVRO que nos trouxe hoje a
inspiração, colocando-nos no ‘paraíso terreal’ como espectadores da criação dos
dois primeiro exemplares da nossa
espécie: um Homem e uma Mulher. É meu propósito nesta fruição semanal, não a
interpretação apologética do acontecimento, mas apenas um escopo serenamente
didáctico sobre o mesmo.
1. Da
narração bíblica, que tem tanto de poético como de pitoresco e novelístico – é uma
aberração imaginar-se, sequer, que a Mulher vale apenas uma costela do Homem –
apraz-me citar o sábio teólogo Frei Bento Domingues: “Estas narrativas
pertencem aos mitos de origem, não pretendem fazer ciência. Quem as lê como um
dogma assinado por Deus perde o seu tempo e a ocasião de desfrutar da beleza
destas peças literárias”. Com efeito, a
descrição de Moisés, no Génesis, (2,18-24)
reflecte tão-só a mentalidade machista e patriarcal da civilização judaica
e que foi severamente responsável pelo estatuto de subalternidade e servidão da
Mulher através dos tempos, quer no judaísmo, no islamismo e na religião cristã
e ocidental.
2. O
estigma genesíaco de ajudante ou auxiliar
do Homem foi o pretexto para os fariseus proporem ao Nazareno a questão do “certificado
de divórcio” que o marido tinha o direito de passar à Mulher, “despedindo-a por
um motivo qualquer” (Ms.10, 2-16). Aí,
o Mestre saiu em defesa da Mulher e instaurou o casamento monogâmico e indissolúvel,
expressão máxima do Amor inquebrável, com todo o potencial de felicidade,
entreajuda e plena realização que nele se contêm e, simultaneamente, com toda a
gama de problemas, inibições e eventuais incógnitas que a vida traz.
3. A
este propósito – mormente os da vida conjugal – reproduzo aqui a observação que
em África, Moçambique, no defeso das actividades militares, ouvi eu da boca de
um emigrante europeu, aquando da Encíclica
de Paulo VI, ‘Humanae vitae’ sobre a pílula e a limitação da natalidade: “Ó Capelão, explique-nos o que é que
tem o Papa e o que é que tem a ver a Igreja para se meterem na alcova do casal?”. Há segmentos
e soluções que competem mais à ciência médica e psíquica do que à Igreja. Daí,
a minha parcimónia no assunto, sem prejuízo do atendimento a quem o solicitar.
4. Paralela
a esta ideologia (e em contraposição) recordo aquele intelectual suíço que, há
cerca de 60 anos no Porto Santo, confidenciou-me que dedicara a vida inteira a neutralizar todas as tentativas de divórcio
ou separação, convencendo casais problemáticos, quase in
extremis, a manterem a unidade conjugal. E justificou: “Ainda hoje sofro os
traumas da separação dos meus pais, tinha eu apenas oito anos de idade”.
5. “Maior
milagre que mudar a água em vinho (como
nas Bodas de Caná da Galileia) é o milagre de unir duas vontades livres,
essência do matrimónio. E suprema validade é o de conservá-lo por muitos e
longos anos, contra ventos e marés. Até os próprios pagãos, caso da Grécia Antiga,
valorizavam a unidade conjugal personificada em Penélope e a tela que ela
própria tecia durante o dia e desfazia-a durante a noite, sempre à espera do “seu”
Ulisses levado para a guerra de Tróia. Com esse pretexto, evitou submeter-se ao
veredicto do pai que pretendia casá-la com um príncipe pretendente.
6. Nunca
se sabe o que se passa dentro das quatro paredes de uma casa. Os tempos da
pandemia que o digam. Por isso não nos é lícito julgar ninguém, muito menos na
praça pública.
7. E
por isso também, Honra e Glória, palmas de Vitória a todos os casais que
mantiveram acesa a chama do seu compromisso, superando dificuldades,
atravessando vagas de mar alto, calcando sob os pés ensanguentados os espinhos
e os abrolhos que se atravessaram no caminho.
Bem hajam todos aqueles e aquelas para
quem a conjugalidade não foi apenas corpo. Foi também alma sempre viva e
renovada !!!
02.Out.21
Martins Júnior
Desta excelente reflexão sobre a unicidade das nossas origens (homem e mulher), fico com a firme convicção que a família é muito mais alma que corpo e sem valores bem estruturados não há muralha que resista às mudanças dos tempos.
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