Quando
entramos no natal damos o primeiro passo para a embriaguez do museu de cera,
quer sejam gesso, barro ou porcelana os – sempre os mesmos – figurantes de
cena: os ‘meninos-jesus’, os josés, as marias, as ovelhas, os camelos, os reis
e os pastores. E com que havemos de encher os olhos senão com o mini ou macro-jardim
zoológico à volta da gruta, desde a maior à mais modesta. A barafunda ambiente,
desde as praças aos mercados e às igrejas, aos crismas, às missas do parto –
tudo ajuda a mascarar o covid anunciado ou escondido que trazemos no rosto.
Poucos são, decerto, os que perscrutam
os presépios vivos, tanto o que trazem dentro de si como os da perdida paisagem
à sua volta. Porque é no íntimo desses
presépios vivos que nascem e crescem os natais que nunca acabam. Por muitas e
boas loas que se cantem, por mais ‘lapinhas’ que se apinhem à lareira ou fora
dela, tudo passa tão volátil e fugaz que começamos já a pensar no natal do ano
que vem.
Mas onde estão, afinal, os valores
perenes que fazem do Natal o chão que pisamos, o ar que respiramos, o abraço
com que amamos?... Precisamente nos presépios vivos, aqueles que deixamos
diluir e desaparecer no espectáculo dos presépios mortos, museus de cera à
nossa beira.
O LIVRO traz-nos hoje e amanhã algumas amostras, que são outras
tantas receitas, para nos assumirmos participantes activos, permanentes, desses
presépios vivos.
João, o Precursor, deambulava pelo
deserto com a utopia de um mundo novo cravejada dentro do cérebro. E com tal
entrega que as multidões começaram a
partilhar desse mesmo sonho tornado anseio colectivo. “Que havemos de fazer?,
diz-nos João” – assim clamava a multidão.!
“Quem
tem duas túnicas dê uma a quem não tem… E os que têm comida façam o mesmo… Os
fiscais dos impostos não explorem o povo, não lhe roubem mais do que já está
taxado… Os soldados não façam violência, não denunciem ninguém diante dos poderosos…
Eu baptizo-vos em água, mas o que vale é o espírito”… (Lucas, 3, 10-17.).
Numa sociedade de simulacros ou num
anfiteatro de símbolos, nada mais devia interessa que os valores. Esses que o
Precursor semeou no deserto: a justiça distributiva, (que não apenas caridade
de supermercado) um imperativo interior do espírito (chamado consciência social)
a abolição da violência (individual, doméstica, tribal ou transnacional), a
liberdade de expressão sem receio de que haja represálias surdas ou manifestas.
Se entrasse no templo de Jerusalém, o
Precursor anteciparia “as imagens verdadeiras do presépio vivo” que o Nazereno
viria a proclamar mais tarde. De nada
valem as burocracias sacramentais, vistosas e efémeras, baptismos, crismas,
eucaristias, etc., sem os valores estruturais a criá-las e a consolidá-las!...
Os valores humanos é que incarnam as virtualidades divinas!
“A
carne não serve para nada, o que conta é o espírito que dá vida” – bem explicitou
o Mestre. Por isso, votos de Presépios Vivos, para sublimar os museus de cera “com
que se o povo néscio se engana” e se diverte.
11.Dez.21
Martins
Júnior
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