Domingo
aberto e entramos no reino dos coloridos (que não os mais apetecidos) sinais de
alerta em vários registos, desde a meteorologia ao desporto e à refrega
eleitoral. Hoje, porém – e porque é início de semana – abstraio-me da barafunda
das arenas para concentrar-me no meu recanto habitual: o LIVRO. Convido-vos a uma descoberta, aparentemente
contra-natura, qual seja a de sinalizar na personalidade de Paulo de Tarso, o
fogoso Apóstolo das Gentes, um especialista em anatomia laboratorial dirigida à
diversidade e, paradoxalmente, à unidade metabólica do corpo humano.
Vem naquela Carta memorável que
escreveu aos habitantes da cidade de Corinto, a Primeira, capítulo XII. Depois
de ter integrado na mesma síntese a multiplicidade de talentos e carismas próprios
de cada ser humano – sempre para o bem comum – Paulo de Tarso recorre à
belíssima alegoria do corpo para, em jeito de “Pão partido aos pequeninos”, do clássico
Padre Manuel Bernardes, transmitir que ninguém consegue sobreviver enclausurado
na torre de marfim da sua auto-suficiência. Somos sempre o pobre de alguém.
Respigo apenas dois parágrafos:
Há
muitos membros. Mas um só corpo…O olho não pode dizer à mão:’Não preciso de ti’.
E a cabeça não pode dizer aos pés: ‘Não preciso de vós’…
Se
um membro sofre, todos os membros sofrem com ele. E se um membro é enaltecido,
todos os membros se alegram com ele…
O recurso estilístico a
esta figura dá-nos a amplitude do sentido didádico do Autor da Carta, abrindo
pistas para os grandes horizontes da condição humana, vincadamente numa
política igualitária de distribuição de recursos (“que ninguém fique para trás”),
na democratização da cultura e na vivência dos valores espirituais, culminando
esta visão cósmica na construção do “Corpo Místico de Cristo”, em cuja
concepção se apoiaram grandes teólogos (inclusive os da denominada Teologia da
Libertação) e, já antes deles, o eminente cientista Teilhard de Chardin.
Deixo à consideração de cada um as
virtualidades revolucionárias condensadas numa Carta que ultrapassa as
fronteiras milenares de Corinto e penetra em todo o tecido da história humana,
a nossa, a actual, a do século XXI. Quando chegará o Dia Novo em que os
indivíduos e as instituições descobrirão o ganho e o encanto de sabermos que a
vida societária só se realiza no sistema de vasos comunicantes?...
Para exemplo e conforto, transcrevo a
máxima que marcou os passos desde a minha juventude: “Há tanta beleza e
dignidade em descascar batatas como em construir catedrais”!
23,Jan.22
Martins
Júnior
Estou construindo uma catedral!
ResponderEliminarJuscelino Kubitchek, presidente do |brasil e construtor de Brasília, certa ocasião foi visitar as obras da Catedral.... Conversou com os operários e perguntava a cada um qual era seu mister na construção. Uns diziam, levo areia e cimento, outro, tijolos, e um respondeu: estou construindo uma catedral..... o Presidente que tinha uma afeição pelas coisas grandiosas, registrou essa frase nas suas memórias.... (a sua mãe era portuguesa e quando alguém o visitava, sempre apresentava o "seu maior tesouro que era a sua mãe...., segundo suas palavras....)