Não
tinha intenção de entrar nesse vespeiro jogado à frente das nossas portas e
enxameado para dentro das nossas casas.
Mas, porque continua a bater também à minha porta, pelo menos até domingo, lá
vai a minha indignação.
O meu asco tem o tamanho da minha
indiferença, originando uma visceral repulsa e, ao mesmo tempo, um enfadado
sem-vontade de o escrever. São três os figurantes e começarei de frente para
trás:
Primeiro vem o pelotão “E” e, em terceiro, o batalhão “D”. No meio, fica o incumbente ou
inquilino “C”, cujo contrato de
arrendamento é válido por quatro anos.
“E” e “D” são inimigos figadais
desde a raiz dos cabelos até às unhas dos pés. Mas une-os um diabólico desejo,
indomável apetite: matar o inquilino “C”,
fosse qual fosse o plano, nem que tivessem de dormir os dois, ao menos uma
noite, na mesma cama. Ao inquilino “C” sobrevieram
depois imprevistas dificuldades, anemias, endemias, a família infectada, a
vizinhança também.
Os
ferozes inimigos trocam olhares furtivos – é
agora ou espera-se que o ‘gajo’ caia, deixa-se para outra noite. Entretanto há quem prometa um avultado cheque
ao convalescente, parece que a família e a vizinhança recuperam e renasce a
esperança de um quadriénio em paz e segurança na aldeia. E é aí, numa
inspiração cirurgicamente consumada que os figadais amigos-inimigos decidem: Agora ou nunca! Nem mais um instante! Antes que o ‘gajo’ se levante,
vamos liquidá-lo, entre nós dois a lei está feita: ‘um diz mata, o outro diz
esfola’.
E
com um sangue-frio de estremecer muralhas, na praça pública, os dois ‘amigos-inimigos’
arremessaram-se à uma e, com rio e sem pio, afogaram o indefeso “C”. O pior é que pôs toda a vizinhança
em alvoroço, com vespeiros a bater nas janelas e nos ecrãs dos televisores,
doenças e endemias a crescer, gente baldeada de um lado para outro. E o
pandemónio ainda não acabou, vai até domingo à noite.
Porque
não há pachorra para dourar a pílula, já se desvenda a charada: podem colocar “E” na Esquerda, o “D” à Direita e o “C”, por
ser inquilino, é tudo menos Centro. Foi o inquilino derrubado.
Sem
mais preâmbulos: o furor dos ‘contrabandistas do poder’, jogadores calculistas
profissionais da roleta russa, aguardaram o depauperamento da nação, a pandemia
que agravou um milhão sem médico de família, calcularam mais um milhão de
confinados no almejado dia 30, lobrigaram como famélicos agiotas a bazuca europeia … e zás! Não se o deixa levantar cabeça! A
sofreguidão tresloucada pelo poder nem deixou o Orçamento seguir o normal curso
regimental até à especialidade e votação final global! Mataram o mandato de
quatro anos na própria ‘barriga da mãe’… Tanta foi a pressa, tanto foi o furor|.
Se
a alguém feriu o meu desabafo, lamento. Mas tenho também direito à minha
indignação. Por mim e pelo desconcerto importuno e inoportuno, agarotadamente
extemporâneo, que causou a milhões de cidadãos, jovens e idosos, mais a mais,
sobrecarregados com dificuldades de vária ordem.
25.Jan.22
Martins Júnior
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