sábado, 15 de janeiro de 2022

O ESPÍRITO DA DEMOCRACIA E A DEMOCRACIA DOS ESPÍRITOS

                                                                              


É inevitavelmente aí que havemos de chegar. Seja qual o gps do nosso passo ou o batente da nossa velocidade, sejam quais as veredas ou autoestradas que optemos percorrer, é lá que chegaremos.  Assim dita a biologia, assim determina o processo burocrático do trabalho (Max Weber), assim o crescimento sócio-cultural, a filosofia  e assim a própria teologia. Todos os segmentos da vida em sociedade convergirão para um único vértice de perfeição: o espírito democrático.

           Em mais um fim-de-semana, embarco de novo no LIVRO, à procura de mais uma centelha de verdade. E achei-a precisamente num dos textos propostos para este Domingo, 16 de Janeiro. É o de Paulo de Tarso numa das suas Cartas, a Primeira aos habitantes da grande cidade de Corinto. Poderíamos hoje titulá-la de Homem Algum é Uma Ilha, de Thomas Merton, ou de A Vida das Abelhas, de  Maurice  Maeterlinck, ou de outro extenso Manual de Sociologia.

         O que estruturalmente está em causa é este determinismo genético, chamemos vocação inata, da natureza, dos homens e das coisas: a interdependência de funções e contributos que, sendo parcelares e distintos uns dos outros, concorrem todos para a mesma meta - a compleição perfeccionista de um bem comum ao serviço da humanidade, seja numa família, num bairro, numa cidade, no planeta.

         Para os amigos e amigas que comigo conversam ao som deste teclado dos Dias Ímpares, excuso demonstrar mais provas científicas além do écran na minha frente: as conquistas da engenharia electrónica, a evolução da tecnologia, os milhares de investigadores, as ferramentas, os operários, enfim, o batalhão produtor deste portento onde se passeiam os meus dedos! Desde os mais singelos, por vezes até descartáveis objectos do quotidiano até aos altos voos da ciência, há esta corrente de persistentes elos indissociáveis desde o início até ao términus do seu percurso: o nosso bem-estar. Sensibiliza-me profundamente o que comemos à mesa, o pão que vem da terra e o pão que vem do mar. Quantos obreiros anónimos estão ali connosco!

         A frustrada ambição do Orgulhosamente Só, já a história tem demonstrado os escalavrosos frutos que produziu e ainda produz: a ditadura, a destruição, o suicídio. Tremenda e avisada lição para governantes e candidatos ao poder!... Toque a rebate à própria Igreja e à sua monarquia unipessoal, tendencialmente exclusivista e elitista, contra a qual tem lutado, quase debalde, o Papa Francisco, sobretudo na encíclica Fratelli Tutti.  A este propósito, surge em Portugal um valoroso sósia do Bispo de Roma, o Professor Padre Anselmo Borges, sobretudo no seu último livro: A Igreja e o Mundo, Que Futuro?  Imperdível a sua leitura.

         Perorando sobre o Espírito da Democracia inerente à constituição do Planeta e do Homem que nele habita, , verifico que não fiz ainda a prova de Paulo de Tarso na complementaridade dos espíritos, isto é, dos dons e talentos esparsos nas relações que determinam a vida em sociedade. Eis, pois, o que diz o Apóstolo das Gentes, na sua Carta aos Coríntios:

         Há uma diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. A manifestação do Espírito é dada a cada um para proveito comum. Assim, a um é dado o dom da palavra e da sabedoria; a outro o de operar curas e milagres; a outro, o dom da profecia; a outro, o do discernimento dos espíritos; a outro, ainda, o dom de falar diversas línguas e a outro, o de saber interpretá-las. Mas é o mesmo Espírito a operar em todos e cada um  para o proveito comum (I Cor. cap. 12).

         “Para o proveito comum” – aqui está o Tratado Perfeito do verdadeiro Espírito da Democracia Plena. “Navegamos todos no mesmo barco”!

 

         15.Jan.22

         Martins Júnior

           

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