Em
maré alta eleitoral, o meu voto vai para a Vida! Voto na longevidade numérica.
Mas muito mais voto na longevidade algébrica, envolvendo neste conceito não
apenas a leitura linear do cômputo dos anos, mas acima de tudo a latitude
global do tempo de existir.
Hoje
cabe a Eduardo Lourenço a glória de subir os 96 degraus do pódio da Vida – um troféu
do qual não pode orgulhar-se a generalidade dos mortais. No entanto, maior que
o seu extenso curso cronológico ascende a amplitude do pensamento com que
dilatou uma história quase centenária. Nisto se distinguem as multiformes
dimensões da vida: o espírito ultrapassa ilimitadamente as aparentes fronteiras
do corpo. Neste sentido afirmou Eça de Queirós acerca do líder do “Grupo dos
Cinco”, Antero de Quental: “Ele tinha alma para sete famílias”.
E
é precisamente nesta encruzilhada interpretativa que à quase mítica longitude existencial de Eduardo Lourenço decidi juntar a exígua vereda
de alguém que não logrou a metade sequer daquela idade: Fernando Pessoa! Aquele
ergue-se vitorioso do alto dos seus 96! Este abandonou na tumba um corpo de apenas
47 anos de vida respirável.
Fico-me,
então, dividido (e, ao mesmo tempo, inteiro e uno) perante esta inexorável
disjuntiva: Qual dos dois é o maior? Quem encheu os anos e preencheu melhor a
grande paisagem da vida: Lourenço ou Pessoa? Qual mais forte e plena será: a
mensagem de Pessoa ou o legado de Lourenço?
A
conclusão é líquida e transparente: assim como “os homens não se medem aos
palmos”, também o pensamento e a vida não se cingem aos ponteiros do cronómetro.
O que importa é atingir a plenitude da medida que nos foi doada em determinado
tempo histórico. Por outras palavras, o que é preciso é encher até ao cimo o
vaso de argila que nós somos. Porque ´é então que o vaso, quando cheio, já não
será de argila mas de ouro e diamante transfigurado.
Grande
é Eduardo Lourenço. E grande será sempre Fernando Pessoa.
Porque ambos
ganharam a plenitude de estar aqui. Como bem definiu o génio pessoano:
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No
mínimo que fazes.
Assim em cada lago a
lua toda
Brilha,
porque alta vive.
23.Mai.19
Martins Júnior
De um mestre, espera-se sempre a intocável narrativa e o prazer de o ler demoradamente. Porque, destes três mestres do pensamento intelectual, não sei, qual deles, é o mais intangível na criatividade do mundo das letras. Desta, abstenho-me de comentar.
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