Não
passará, talvez, de um apelo inaudível ou de uma voz sem eco. Mas nem por isso
deixarei de sair à rua e agitá-lo na praça pública. Refiro-me à apresentação,
debate e aprovação do Plano e Orçamento para a Madeira e Porto Santo/2020, ora
em curso no Parlamento Regional.
Partamos
de uma premissa genérica, partilhada e propagandeada pelo vento que passa e
entra nos ouvidos das pessoas, nas frinchas das janelas, nas prateleiras dos
cafés e que, por muitas e variadas formas, diz mais ou menos isto: “Quem é que
pode suportar os políticos, os discursos, as mentiras descaradas, as promessas
esfarrapadas, quem os atura?... Não há pachorra!”.
Carradas
de razão carregam esses ventos! Mas uma coisa é certa, além da qual não podemos
ultrapassar: é essa gente que marca os nossos
destinos, o quanto se come, o como se veste, a casa, casebre ou apartamento
onde se deve viver, as cartilhas e as notícias que podemos ler, enfim, são eles
que estendem os carreiros e os carris por onde devem andar os nossos pés.
Mas
há mais: fomos nós que os pusemos lá, somos nós que lhes emprestamos o
microfone e a voz e somos nós que lhes oferecemos rádio, televisão, jornalistas
e comentadores – um batalhão de serventes, alguns serventuários, cada qual com
as suas orelhas, os seus aparos e as papilas gustativas do sabor e da cor das
suas simpatias.
E
para quê todo este teatro hemi-circular? Que ali fazem os actores e
figurantes?... Mexem no nosso dinheiro, jogam “ao montinho”, pataco para aqui,
pataco para acolá (não raro, ‘pataca a mim, a mim pataca’), estes comem carne e
peixe, aqueles espinhas e ossos, tu comes o bolo-rei, aquele contenta-se com ‘o
pão que o diabo amassou”, senão engoles pó e alcatrão.
Quando
constatamos que é a nossa causa e o nosso mundo que estão em jogo, é caso para
nos interpelarmos: Será assim tão
inútil, despiciendo, tão afónico ou inaudível aquele combate concêntrico na
sala redonda?... De todo!
Para
lá do garfo ou do navalhão com que mexem e cortam o “bolo” que é de todos, a
minha mensagem tem por objectivo sensibilizar os constituintes pagantes do
Orçamento (e esses somos nós!) para a forma como os ‘talhantes’ oficiais
exercem a função: os instrumentos que usam, o como afiam ou desafiam as pontas
da língua e a cárie dos dentes, a ‘literatura’ rasca ou erudita com que mimam
os comparsas do lado, em último remate, como tratam o Povo que lhes deu o voto
e, com ele, poltrona, garganta,
computador e gravata a preceito.
Sei
que é impossível à imensa maioria da população seguir em directo, via rádio ou
TV, todos os conteúdos da “Ordem de Trabalho”, mas desejável seria que tal
acontecesse. Tal como o Voto, deveria ser um direito e um dever!... Permitam-me
um desabafo, reforçado por décadas de experiência naquela Casa das Leis:
Quantas vezes – muitas, muitas – perante atitudes de certos deputados em quem
votaram certos aglomerados populacionais, dizia eu no meu íntimo: “Quem me dera
que aqui estivessem essas pessoas! Tenho a certeza que nunca mais os
escolheriam!”.
É
pelo alheamento dos eleitores nos debates relevantes para a comunidade (o Plano
e Orçamento/2020) que proliferam a inércia e, no limite oposto, os extremismos
populistas, os oportunistas que descredibilizam a nobre missão política de,
etimologicamente, ordenar, governar a cidade.
Parafraseando
alguém, na voz de um deputado eleito estão os milhares de vozes que nele
votaram. O meu respeito e homenagem a todos os que, na Maioria ou na Oposição, exercem
dignamente o seu estatuto!
21.Jan.20
Martins Júnior
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