domingo, 19 de janeiro de 2020

“RIDICULE, MAIS CHARMANT”


                                                        

Em fim de domingo faz bem e até serve para arejar não só o ambiente circundante mas também  o cérebro pensante de quem viveu em directo ou em diferido aquele coro canoro,  superpolifónico, inigualável, dos animais no anfiteatro exterior das igrejas, seguido do cortejo processional sempre com a mesma banda sonora, briosa e livre, desde os metálicos galos-palheiros até aos roncados e cavos carneiros atrás do santo protector, insensível a tão ruidosa manif.. Os felizardos, porque abençoados, bípedes e quadrúpedes faziam a publicidade dos seus dedicados proprietários, vestidos à domingueira para exibir os seus forçados “pupilos” de companhia.
   Dado o palco aos “homenageados”, demos a palavra aos donos, mais divertidos e orgulhosos que os próprios protagonistas domésticos:
“Como a gente, os animais também merecem a bênção de água benta”!
“Os bichos têm direito a ser benzidos, porque é a nossa tradição. E “Eu cá sou católica”.
“Eu vim de longe, porque na minha freguesia só dão missa, não deitam água benta ao meu cão”!
“Como nós, eles também têm o direito a ser baptizados. Para Deus lhes dar mais saúde, mais tempo de vida e mais juízo”. Esta do ´”mais juízo”,  é a cereja em cima do bolo!
Ridicule, mais charmant! – não me ocorre outro sublinhado, que nem chega a ser comentário…
E em que estaria pensando Santo Antão, do alto do seu andor, com aquele “jardim zoológico" ambulante atrás de si? …
Saberá o povo crente que o porquinho e os restantes animais que figuram aos pés do santo eremita representam os demónios que o atormentavam no deserto para onde ele fugiu, apavorado com as tentações mundanas que o perseguiam, noite e dia?...
Mas é tudo tão carinhoso, comovente, enternecedor. E o povo gosta…
Ridicule, mais charmant!

19.Jan.20
Martins Júnior    

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