Ao
título em epígrafe falta juntar o elemento essencial: o verbo ou predicado. Então
ficaria assim: “Também caem as novas catedrais e da mesma forma se abatem os monstros sagrados”. Na leitura
que lhes faço, os verbos assumem uma nítida conotação reflexa, ou seja, são as
catedrais que tombam por si mesmas e os monstros, ainda que sagrados, são eles
que a si próprios se desmancham, à luz
do dia.
Da encosta onde me posiciono, declaro que tomo, desde já, torres ou monstros como ícones e metáforas de
tantos outros monumentos sócio-económico-culturais que têm balizado os nossos
usos e costumes - numa palavra, a nossa civilização – e que, a partir de agora,
ficam em hasta pública, à mercê de novos ventos e fortes abalos trazidos pela “insustentável
leveza” do coronavírus.
Hoje, porém, compartilho da mesma
paisagem que, no dia de ontem, milhares e milhões de portugueses desfrutaram ao
ver subir lentamente (ao peso de uma herança quase perdida!) certos corifeus do
nosso desporto-rei na escadaria de São Bento, em Lisboa. Houve quem a comparasse a uma segunda edição
de nova “brigada do reumático” a caminho de um improvisado hospital de
campanha. Ordem de trabalhos: epílogo de campeonatos inacabados.
Não me ocupo do elenco da dita
embaixada nem da sua hipotética legitimidade representativa. Nem sequer da dita
Ordem de Trabalhos. Preocupa-me tão só o mesmo que preocupa o cidadão comum
quando se debruça sobre o estado actual do mundo do futebol – essa floresta tão
densa e tão sombria que tanto custa a desbravar e decifrar. A questão que a
todos se coloca é esta: o que é hoje o futebol?... Desporto, acção, arte
atlética, fraca competição, desenvolvimento integral da personalidade?... Não
há muito tempo, um conhecido e abalizado cronista desportivo, no aceso de um
debate televisivo sobre a matéria, explodiu (é mesmo o termo, explodiu!)
agastado, peremptório: “Isto é só negócio. O futebol nada tem além do negócio”!
No decurso do debate, atiraram-se como pedras de chumbo para cima do tampo da mesa acusações e
denúncias de transacções, trapaças e jogadas, subornos, traições, todo um
enxurro torpe de dinheiro sujo e atentados à dignidade humana…
Pergunta-se: Onde está um lampejo que
seja daquele ideal olímpico de que falava o poeta latino Iuvenalis: “Mens sana in copore sano”?
Nos comentários de bancada, do povo que
até gosta de futebol, saíram tacadas ácidas, como “Se calhar, estes tipos também
vão pedir dinheiro ao governo para pagar aos jogadores”… E logo vêm ao de cima
as cifras ciclópicas aos donos das chuteiras, como aquele ilustre Professor da
Faculdade de Medicina que, ao saber da transacção feita com Neymar ao PSG, não
se conteve: “O quê? Isso é o Orçamento Anual de todo o Hospital de Santa Maria”!!!
A alinhar com esta inflação verdadeiramente
obscena, acresce a superinflação da palavra, dos “catedráticos da bola”, com cujas
avalanches verbais os nossos canais rebentam pelas costuras… Por outro lado,
não deixa de ser notória a “caça” precoce aos jovens, desde tenra idade,
criando neles parcas apetências e falsas expectativas num futuro que não
ultrapassa a mediania, senão mesmo o vazio cultural. Permitam-me um desabafo:
ainda não percebi qual o cabimento pedagógico de transportar menores pela mão
para dentro de um “caldeirão”, de todo desaconselhável, onde os esgares
descontrolados são a mais vergonhosa cartilha para uma criança!
Não pretendo moralizar nem muito menos dogmatizar
sobre o gigantesco fenómeno do desporto-rei. Acompanho apenas o olhar atento dos autênticos
observadores dos futuros estádios, isto é, dos novos caminhos que o futebol
abrirá no mundo de amanhã. Algo será diferente. O batente que o ‘Covid-19’
estourou na barra dos nossos rectângulos desportivos e em quase todos os
quadrantes sociais servirá para queimar a gordorosa e rançosa imundície de que
andam vestidos certos figurinos e certas estruturas do nosso futebol. As
próprias novas catedrais – os estádios são as novas catedrais da cidade – e os
seus monstros sagrados cairão de velhos e gastos se não tentarem
rejuvenescer numa outra mundividência do desporto.
Faço
minhas ( e outro objectivo não tenho senão transmiti-las) as judiciosas
palavras do Prof. Francisco Sobral: “Toda
a actividade desportiva deverá ser equilibrante, estruturante e socializante”. E
completo-as com a veemente denúncia de um outro Mestre do Desporto, Manuel
Sérgio, acerca dos desvios do mundo em
que se movimentava: “Este nosso mundo tecnocrático que rejeita áreas
fundamentais e que, ao lado dos “Spitz”
e dos “Pelés”, mantém milhões de subalimentados”!
Será
desta - pergunto eu - ou teremos nós de esperar por mais uma enorme penalidade do ‘Covid” para darmos outra volta ao mundo do desporto,
o futebol inclusive?
29.Abr.20
Martins
Júnior
....Bom dia....Com tantos estádios em Portugal vai colocar o Maracanã? Sabia que "maracanã" é um deus índio? kkkk
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