Era
o tempo da infância do tempo primeiro
Quando
o Demiurgo sem Tempo
Troou
solene ao único herdeiro:
“Astros
e mares
Terras
lumes e ares
Tudo
é teu
O
meu braço intangível
O
fez e to deu
Eu
sou o Presente já passado
Tu
és o presente Futuro
Agora
É
tua a foice, a selva e teu é o arado
Agora
É
a tua parte
Quero
vê-la
E
mais tarde perguntar-te
Quanto
fizeste dela
Da
minha herança:
Se
um antro onde te afundam e devoram
Se
a alta montanha de onde o meu Império se alcança”
…………………………………………………….
“Eis-me
aqui - rei sem trono atado ao cepo vil
Depois
de ter subido caído reerguido
Todos
os ares, lumes e mares vezes mil
A
antiga herança que me deste
Fiz da montanha agreste
Hortos
de amor colinas de saudade
No
chão frágil do tempo
Espelhos
de eternidade
Cavei
rios onde dançavam trigais como poemas
Saídos
das tuas mãos
Das
pontes que lhes fiz
Via-se
o pesponto das varandas do teu país
Mas
um dia
Maldita
foi essa manhã
Ou
rasto de serpente ou garra de Satã
Bebeu
todo o suor
Com
que eu regava a terra
E
do ventre dela antes materno
Brotaram
poalhas de ouro e prata
Logo
fundidas em arsenal de inferno
Que
tudo arrasa e tudo mata.
Das
árvores pão e pomar que plantei
Cascaram
papel sonante comido às dentadas
Roubado
à mesa das lareiras apagadas
Eis-me aqui, rei sem trono herdeiro proscrito
Torceram-me
os braços em arame farpado
E
o coração antes ardente apaixonado
Ficou
mais duro que o granito
Que
não conhece irmão nem o sente ao seu lado
Milénios
de socalcos moldaram os meus pés de Operário
Sobre
a madrugada doadora
Daquela
herança que ainda aqui mora
Esgotámo-nos
e esgotámo-la
Desfigurámo-la
e já não a reconheces
Oh
Demiurgo sem Tempo
Quero
voltar à infância do tempo primeiro
Nas
asas do invisível mensageiro
Que
aí vem
Operários
de um Tempo Futuro
Voltemos
à Terra-Mãe”
Dia do
Operário - 01.Maio.20
Martins
Júnior
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