Não
é discurso académico, mas podia sê-lo. Não é exercício de pura dialéctica de
conceitos nem virtuosismo poético de circunstância, mas podia sê-lo também.
Como podia ser, ainda, o mote de um debate de sintonias e dissonâncias sobre um
mesmo tema, mas não é.
Que será então?
Hoje, entalado entre o “25 de Abril” e
o “1º de Maio”, dei comigo a navegar
numa tal “barca de Caronte” sobre um rio chamado “Covid”! As margens lá estão,
umas vezes como pilares armados, outras como terra verde e viçosa conversando
com o silencioso negrume da torrente-mistério que viaja até a foz, uma foz sem termo
nem rosto.
E
porque margens, rio e barca formam um só – a tríade da vida – senti que todos
trazem uma mensagem uníssona e, paradoxalmente, todos possuem a mesma força
centrífuga, contraditória. São tão iguais e tão diferentes! Fundem-se num mesmo
tronco e divergem em múltiplos ramos.
Hoje
vejo “Sua Majestade Covid” implantado
entre dois pilares históricos: Abril-25 e Maio-1º. Todos chamam pela Vida, na
voz do desejo, mas todos como na nau do barqueiro grego defrontam-se com a morte.
Na vozearia comum, todos falam de uma linguagem nova – Solidariedade, Justiça
Social, Saúde, Fraternidade, Amor – mas a nenhum deles é alheia a armadura da
Luta, Resiliência, Renúncia, até Isolamento e Morte.
Sem
mais enigma, o que hoje vos trago e proponho é uma ficha, tipo “Telescola”, com
um único enunciado no largo ecrã do
vosso/nosso/meu consciente reflexo:
Descobre as semelhanças
e as diferenças entre estes três polos:
“ABRIL25
- COVID - MAIO1”
Vou tentando, como Édipo diante da
esfinge, decifrar o enigma. Durante o percurso, espaçadamente, surge-me no horizonte dos tempos uma seta de fogo,
insistente e intermitente, interpelando-nos sem rodeios:
“De quantas pandemias precisa a humanidade para aprender a
viver?”
27.Abr.20
Martins Júnior
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