Anda o mundo em frenesi. Por mais confinamento, emergência ou calamidade com que o queiram envolver, vivemos tempos convulsos - abafados, é certo, mas de tal modo trepidantes que ninguém sabe para onde vai, ninguém acha saída e, por muito que tentemos, acabamos sempre por entrar na caixa de pandora a em que nos meteu o ‘corona’.
E o que mais nos desconcerta é
constatar, a olho nu, o rodopio de problemas, ideias, sugestões, quase-soluções
e, tudo junto, um serpenteado labirinto de contradições que nos abalam mas, ao
mesmo tempo, apontam pistas de saída. “Estes Dias Tumultuosos” – bem poderíamos
classificar assim os tempos que correm, com o mesmo título que deu o holandês Pierre
von Paassen à sua obra, em 1946. Dos horrores da segunda guerra mundial saíram
os alvores de uma nova Europa, sob o signo da coesão e da unidade.
E agora, 2020?...
Em pleno duelo quotidiano, ameaçador e
fatal, com a morte viral dentro da nossa pele, vemos cair em catadupa casos e
conflitos, definições e propostas que estremecem as estruturas do planeta e
põem-nos o cérebro em aflitivo transe.
Os milhares e milhões de vítimas que não param de crescer, as diatribes
americanas e as ameaças de genocídio, as manifestações na Polónia contra a
interrupção voluntária da gravidez, a proposta de Referendo, em Portugal, sobre
a eutanásia e, para cúmulo, a entrevista do Papa Francisco sobre os
homossexuais “que também são Filhos de Deus e têm direito a viver em família”.
Tremendas
magmas de fogo caídas em tempo de convulsão colectiva! É voz comum em muitas esquinas das velhas
estradas esburacadas: “Isto não devia ser falado agora. Quem pediu urgência imediata
para a entrada destes ‘fantasmas’ agora que estamos a braços com tanta miséria
física e mental?”.
Eis
o paradoxo e, ao mesmo tempo, a justificação. Mostra-nos a História que é precisamente nos tempos de agitação
e nas encruzilhadas tormentosas que surgem as respostas e as pistas libertadoras.
Tudo depende do olhar que contempla o abismo, o qual para uns é a destruição e
para outros é o caminho e a solução.
Prescindindo,
neste momento, da apreciação do mérito ou demérito das causas em debate, direi que
a hora que se atravessa actualmente é, sobretudo, de introspecção e
questionamento. Porque estamos a correr em caminhos minados pela morte à nossa
volta, torna-se necessário olhar frontalmente para os temas propostos e
questioná-los, sem medos, sem tabus ou preconceitos. Pôr em causa soluções
gratuitas, desajustadas, traumatizantes e perguntar qual o valor da Vida, quais
as dimensões e os limites da Doação, do Amor, quais as conexões do sexo na
realização holística da Pessoa, qual o sentido último da existência humana.
Abre-se
o vasto campo da investigação e debate sobre os grandes vectores da história dos povos. Do nosso povo e de cada
um de nós, enquanto parcela de um todo. Em vez de amaldiçoarmos as trevas,
acendamos uma réstia de luz. Em vez de malsinar ou rejeitar liminarmente as propostas que nos são fornecidas por quem
de direito, tentemos descobrir-lhes a lógica, medir-lhes o alcance,
ampliar-lhes o brilho, corrigir e aperfeiçoar-lhes o fundo e a forma.
Não
haja medo de ultrapassar os horizontes tacanhos em que nos trouxeram
enjaulados. É na agitação que se purificam as ondas. E não esqueçamos que foi
no Monte Sinai, entre relâmpagos, trovões e terramotos, que o Supremo Ordenador
deu ao mundo o Decálogo da Felicidade!
23.Out.20
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário