sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

INFLAÇÃO PANDÉMICA: AJAM EM CONFORMIDADE E FAÇAM – A TRIPLICE LIÇÃO DO PASSADO

                                                                              


Eu, que não sou nada atreito a expor “estados d’alma” nestes dias ímpares, muito menos “despir-me” em público (até por isso detesto os estendais do facebook) venho hoje descarregar toda a bílis e todos os autoclismos em cima de tanto charco, de tanta sarna e de tanta babugem que os ecrãs, os opinadores, os ‘achistas’ os locutores e os loquazes políticos de alto a baixo despejam diante da nossa cara, presa aos noticiários.

É de uma interminável tragicomédia-de-rua aquilo que nos é servido, “ao almoço, jantar e ceia” (assim fala o dialecto madeirense), dando a impressão que cada cena é uma imbricada trança que reproduz outras tantas quantas os figurantes quiserem. Dá também a impressão que nós, os inquilinos terráqueos, não passamos sem isto, algo que faça faísca que produza o medo, depois a desconfiança e, no fim, a sentença no banco dos réus.

A Pandemia em três Actos, ao abrir o palco do século XXI.

Primeiro, o pânico que a todos nos tolhia, com a garra adunca da morte batendo à nossa porta e nós a esconder-nos como tímidas crianças nos biombos do confinamento. A seguir, o  intermezzo allegro ma none troppo que nos fez aliviar, tergiversar, divertir, para logo nos fecharmos como monges orantes acendendo velas nas aras da Pfizer, da AstroZeneca, da Moderna e afins. E elas vieram. E foi o Terceiro Acto: quando se esperavam solos de trompetes e marchas proclamatórias, eis que por causa de uns escorregadios “chico-espertos” (isso é algo tão estranho que não rime com o português  decerto?…) por causa desses mosqueteiros de pacotilha e alguidar volta outra vez a guerra, os quilómetros de fita em estúdio,  as quadraturas, as circulaturas, os eixos maléficos e os réus de lesa-magestade.

Poupem-nos. Poupem-me. Façam o que têm a fazer e andem para a frente! Já há traças demais com que nos coçar.

Por tudo isso, preferi outras companhias. Sabia que as encontro todos os anos nesta viagem tricircular, entre 4-5-6 de Fevereiro,  Em 4, assisto ao nascimento do fundador do moderno Teatro Português, Almeida Garrett, no ano de 1799. Em 5, acompanho à última morada em 2003 o maior poeta moçambicano, José Craveirinha, depois de o ter visitado em Maputo, três anos antes. E em 6, de 1608, saúdo a natividade do ‘Imperador da Língua Portuguesa’, o Padre António Vieira. Sinto-me bem, ouvindo as oportunas mensagens de cada um deles. Tão oportunas e frescas como buganvílias roçando os nossos ombros, quer dizer, plenamente aplicáveis à pandémica e babélica barafunda que anda por aí. Ofereço-vo-las, de bom grado;

                                                   


De Almeida Garrett, de ironia cáustica sobre os políticos e seus apaniguados:

Dizia-me um secretário de Estado, meu amigo, que para se repartir com igualdade o melhoramento das ruas por toda a Lisboa deviam ser obrigados os ministros a mudar de rua e bairro todos os três meses.

 

                                                        


De José Craveirinha, o seu ânimo libertador e a esperança no dia futuro, como um girassol por entre os espinheiros da exploração humana:

Do ódio e da guerra dos homens

Das mães e filhas violadas

Das crianças mortas de anemia

e de todos os que apodrecem nos calabouços

cresce no mundo o girassol da Esperança

                                                  


E do maior e mais eloquente Orador da Pátria Lusa, este pregão tão solene e imperativo como uma Encíclica Urbi et Orbi:

Nós somos o que fazemos. O que não se faz não existe.

Portanto, só existimos nos dias em que fazemos. Nos dias em que não fazemos, apenas duramos.

Agir em conformidade. Fazer. Alumiar.  No 4-5-6 de Fevereiro faço o meu Tríduo Pascal antecipado, com aqueles “que da lei da morte se vão libertando” e, por isso, continuo a vê-los e ouvi-los no ecrã planetário onde todos os dias nasce a Luz e ”Cresce o Girassol”!

 

05.Fev.21

Martins Júnior

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