Longe
vão os tempos em que visitei uma cidade brasileira, com sabor e cor a solo
português, desde a planta dos pés que pisam as ruas antigas, sinuosas, calcetadas
a pedra viva (como em Alfama, Coimbra-a-Velha
e os centros históricos das nossas cidades) até às varandas que trepam
as casas de traçado tipicamente luso. Mas o que vivamente me impressionou foi a
monumental presença do escultor António Francisco Lisboa, “O Aleijadinho”, filho
do entalhador português Manuel Francisco Lisboa, com as magníficas estátuas em
pau-sabão, obra-prima da arte brasileira.
São
José de Ouro Preto, de seu nome, em virtude da extração do precioso metal, em
Minas Gerais! Já então, dei comigo a pensar na vocação multirracial do nosso
país fruto da expansão marítima que “deu novos mundos ao mundo”, com o já
discutido contraste de luz e sombras que daí deriva.
Que
sensação de intemporalidade cívica, de beleza polícroma, de multiculturalismo
étnico senti eu, ao ver que Portugal voltou a brilhar com a auriflama atlética
no firmamento europeu!!! Ouro do mais fino quilate num tríptico nunca visto,
onde a tez negra e olhos estelares assentam plenamente na moldura da bandeira
de Portugal! Seja qual a identidade biológica da sua génese – Cuba, Angola,
Camarões – o que releva neste pódio é o prestígio de Portugal, sob cuja égide
ganharam tão almejado galardão.
Este
feito, autenticado pela chancela desta exígua faixa de terra à beira-mar
plantada, tem no seu âmago a mesma histórica mensagem de “dar novos mundos ao
mundo”. Numa época, incompreensivelmente no século XXI, em que pululam estranhas
viroses, algumas até despudoradas, de desigualdades raciais que desembocam em escandalosos
atentados criminais, a tríplice coroa de
ouro português vem afirmar solenemente a dignidade de cada povo, senão mesmo a
superioridade de certos segmentos sociais, estupidamente ostracizados pelos empolados
detentores de peles pintadas de neve, por
vezes, anémica. Ao valoroso trio atlético, junto (por todos) o famoso “Pantera
Negra” e, a nível musical, o melodioso “Duo Ouro Negro” que, na década de 80 e
por sugestão minha, veio abrilhantar o Dia do Concelho de Machico.
Desde
Moçambique trago comigo o respeito e a simpatia pela etnia africana, desde o
mais infantil nativo até ao laureado ‘Prémio Camões’, José Craveirinha, e ao talentoso
pintor Malangatana Valente, em cuja modesta habitação me sublimei com a
imponência das fabulosas pinturas que enchiam as paredes.
Felicitações aos vencedores de agora, futuros
olímpicos. Para ilustrar este meu tributo à sua vitória, faltar-me-ia gravar no
ouro das sua medalhas o Poema “Lágrima” de António Gedeão, expressão
poético-científica da Igualdade Universal que caracteriza todo o Ser Humano.
11.Mar.21
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário