Se
sempre se tem de morrer, que seja no berço de uma manhã de Páscoa! Porque nas
manhãs de Páscoa há sempre o brilho e o tom dos amanhãs que cantam. Vale bem uma
tamanha pena porque não é pequena a alma que fica.
Quisera que assim foram todos os
adeuses: vestidos de alleluias e orvalhados de uma saudade tão forte quanto a
presença que torna tudo tangente e reprodutivo.
A de HANS KUNG assim foi e assim é.
Várias
vezes moribundo sob o ferrete da incompreensão dos que tinham mandato e dever
de entender a mensagem, cedo conheceu uma outra morte, “a mais cruel”, (disse-o
ele mesmo, entrevistado por António Marujo) quando o Papa João Paulo II o
proibiu de ensinar nas universidade católicas de todo o mundo!... Ele, o teólogo eminente, o Mestre de Tubinga,
o co-arquitecto (com J. Ratzinger, o futuro Cefe da Igreja) do Concílio
Vaticano II, na década de 60, do século XX, chamado por João XXIII para tão
ingente tarefa!
Incansável investigador e não menos corajoso
caminheiro por entre a densa bruma da floresta obscurantista dos dogmas que
exorcizou – como o da infalibilidade pontifícia e o monopólio salvífico da
Igreja – a sua maior glória, transformada em legado imorredoiro, balizou entre
dois polos saudáveis e seguros:
-
o “Projecto de uma Ética Mundial”, com base em
“um consenso mínimo relativamente a determinados valores, normas e
atitudes” que se sintetizam num claro princípio: “Sem um Ethos Mundial não haverá
uma Ordem Mundial”.
-
a mundividência ecuménica das religiões, enquanto denominador comum de todas as
crenças e ideologias, expresso num segundo axioma: “Enquanto não houver Paz entre as Religiões nunca haverá Paz entre as Nações”.
Dê o planeta as voltas que der, desçam
os sábios às profundezas dos oceanos ou subam ao sétimo céu de Marte e Júpiter,
há-de chegar aquela hora de alcançar o alfa e o ómega da História, quando do
polo norte ao polo sul se avistarem essas duas bandeiras que nos deixou HANS
KUNG.
Por isso que dos ossos baixando à terra
– deles falará Victor Hugo, o dos “Noventa e Três” – há-de ressurgir HANS KUNG
eternamente ensinante!
07.Abr.21
Martins
Júnior
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