quarta-feira, 7 de abril de 2021

RESSUSCITAR AOS 93 ANOS !

                                                                      


Se sempre se tem de morrer, que seja no berço de uma manhã de Páscoa! Porque nas manhãs de Páscoa há sempre o brilho e o tom dos amanhãs que cantam. Vale bem uma tamanha pena porque não é pequena a alma que fica.

         Quisera que assim foram todos os adeuses: vestidos de alleluias e orvalhados de uma saudade tão forte quanto a presença que torna tudo tangente e reprodutivo.

         A de HANS KUNG assim foi e assim é.

Várias vezes moribundo sob o ferrete da incompreensão dos que tinham mandato e dever de entender a mensagem, cedo conheceu uma outra morte, “a mais cruel”, (disse-o ele mesmo, entrevistado por António Marujo) quando o Papa João Paulo II o proibiu de ensinar nas universidade católicas de todo o mundo!...  Ele, o teólogo eminente, o Mestre de Tubinga, o co-arquitecto (com J. Ratzinger, o futuro Cefe da Igreja) do Concílio Vaticano II, na década de 60, do século XX, chamado por João XXIII para tão ingente tarefa!

         Incansável investigador e não menos corajoso caminheiro por entre a densa bruma da floresta obscurantista dos dogmas que exorcizou – como o da infalibilidade pontifícia e o monopólio salvífico da Igreja – a sua maior glória, transformada em legado imorredoiro, balizou entre dois polos saudáveis e seguros:

- o “Projecto de uma Ética Mundial”, com base em  “um consenso mínimo relativamente a determinados valores, normas e atitudes” que se sintetizam num claro princípio: “Sem um Ethos Mundial não haverá uma Ordem Mundial”.

- a mundividência ecuménica das religiões, enquanto denominador comum de todas as crenças e ideologias, expresso num segundo axioma: “Enquanto não houver Paz entre as Religiões nunca haverá Paz entre as Nações”.

         Dê o planeta as voltas que der, desçam os sábios às profundezas dos oceanos ou subam ao sétimo céu de Marte e Júpiter, há-de chegar aquela hora de alcançar o alfa e o ómega da História, quando do polo norte ao polo sul se avistarem essas duas bandeiras que nos deixou HANS KUNG.

         Por isso que dos ossos baixando à terra – deles falará Victor Hugo, o dos “Noventa e Três” – há-de ressurgir HANS KUNG eternamente ensinante!

 

         07.Abr.21

         Martins Júnior

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