Suicídio ou Assassinato – tudo acabou (ou recomeçou) na manhã de Domingo. E se me ocupei durante as últimas duas semanas sobre o caso, sempre em aberto, impõe-se agora que acompanhe também o seu epílogo. Se não com o mesmo olhar atento e crítico, ao menos com a ajuda de quem, antes de nós, se debruçou sobre tão assombroso quanto enigmático acontecimento
Tertuliano, talentoso escritor cristão
do século II, acerca da Ressurreição afirma: “Creio porque é absurdo”! Por seu
lado, o eminente biblista português Padre Carreira das Neves, após descrever as
tendências ressurrecionais post-mortem, na
ideologia dos fariseus e afins, remata dizendo: “As testemunhas da Ressurreição
não viram um homem com as dimensões físicas do homem da Galileia e de Jerusalém”.
Leonardo Boff situa-se no tempo e diz que “a Ressurreição significou o protesto contra a justiça
judaica e contra o direito romano pelos quais Jesus foi condenado”. E James Dunn: “A Ressurreição de Jesus não é
tanto um critério de fé como um paradigma da esperança”.
Da variegada literatura nascida do
túmulo vazio, sobretudo os escritos dos séculos II e III, relevo apenas duas
conclusões que proponho à consideração de quem me acompanha:
- Não
é a Ressurreição vitoriosa de Jesus que mais me motiva e arrasta ao seu
encontro, mas sim o seu testemunho de vida. Mesmo que Ele não tivesse ressuscitado, a
integridade, a coragem, a transparência dos seus actos continuariam a impor-se
aos séculos futuros. Tantos e tantas homens e mulheres, mártires das grandes
causas, não tiveram o privilégio do Nazareno Ressuscitado, mas ainda hoje continua vivo e
mobilizador o rasto que nos deixaram!
- Enquanto
não houver Páscoa no Mundo, verifico que foi vã, inútil, a Páscoa de Jesus. Esclareço:
Jesus é o único Ser que menos precisa da Manhã Pascal. Ele não morre. Nele, nunca
tem ocaso o Sol da Páscoa, desde antes e até ao fim dos tempos. Ele nem precisa
de vitórias pessoais, pois que nem sequer se exibiu às grandes multidões que
costumavam acompanhá-lo, nem mesmo desfilou triunfante diante do Templo dos
Sumos Sacerdotes ou do Palácio de Pilatos. A sua Vitória é o Legado que nos
deixa. Não é para Ele, é para nós, para o Mundo. De tudo o que ele fez e
conquistou em vida, nada reservou para si. “Não tinha uma pedra onde reclinar a
cabeça”, desabafou abertamente. Foi tudo
para os outros. Particularmente, o Pão e o Vinho da Eucaristia, na Ceia de Quinta-Feira.
E a bandeira da Vitória de Páscoa é a
grande dádiva entregue a todo o Planeta: “Vai, faz o mesmo, ressuscita… Não te
canses nem me marteles tanto com esses Alleluias formais… Tu é que serás o
Alleluia real que tanto anseio”!...
Diante dos cenários entremeados de
sombras, tiros, lágrimas e sangue que, todos os dias e todas as noites,
contemplam os nossos olhos impotentes, é
caso para dizer que foi vã a Páscoa de Jesus. Arrancar as rugas de um rosto
triste e transformá-las num sorriso, ainda que sofrido e breve – é isso a
Páscoa de Jesus.
Pensando nesse angustiante e angustiado
Cabo Delgado, onde muito se cultua o Islão, aproximo o pensamento de Maomé: “Levar
a alegria nem que seja a só um coração é melhor que construir mil altares”.
Melhor, mais belo e pascal que cantar
Alleluias mil!
05.Abr.21
Martins Júnior
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