quinta-feira, 27 de maio de 2021

A FORÇA QUE VENCE TODOS OS “LUKASHENKOS” … DE LÁ E DE CÁ!

                                                                              


Porque “nada de humano nos é estranho” – sejam quais e onde o tempo e o lugar – por essa mesma razão pressuponho que a minha anterior mensagem sobre o “Estado-pirata” do leste europeu terá suscitado interpretações e reações contraditórias: de um lado, um consenso generalizado  contra um tal (que fora) vigia ou gestor de quinta soviética, Lukashenko,  pelo desvio de um avião com 121 pessoas a bordo e, por outro lado, eventuais discordâncias pela aproximação que fiz a situações ocorridas nesta ilha, em passado não muito distante.

Desde logo, apresento a minha declaração de princípios: tudo quanto de importante (exaltante, entusiástico ou trágico) chega aos nossos olhos e ouvidos nunca poderá semelhar-se a pitorescos episódios de novela para fruir-se, a partir do sofá, como sobremesa do protocolo doméstico. Antes, porém, deve servir de guião condutor de um olhar analítico sobre o vasto mundo e, muito cirurgicamente, sobre o piso que cada um de nós habita: o país, a região, a cidade, a aldeia. Pessoalmente detesto o academismo romântico de quem descreve e adormece cavalgando a neblina matinal ou, por outras palavras, quem calça as luvas virgens das vestais do templo para ascender ao sétimo céu sem mescla de cheiro ao húmus de onde saiu.

Respeitando a idiossincrasia identitária de cada emissor-escritor e de cada receptor-leitor, pouco me diz a literatura desencarnada, descomprometida, inócua ou seráfica – “nem carne nem peixe” - dos arrumadores de palavras e colecionadores de citações caçadas nos jardins suspensos do mercado babilónico.

É por isso que o caso “Bielo-Rússia”  não é local, é global. O desvio do avião para prender um jornalista, sacrificando 120 passageiros de 18 nacionalidades, abala-nos a consciência, remexe-nos as entranhas. A repressão transnacional, a ditadura obsessiva, a dominação asfixiante sobre o jornalismo e a opinião pública, tudo isso faz soar os alarmes de todo o mundo e as buzinas e campainhas dos pequenos territórios. Do nosso também! E interpelar sem medo: “E se fosse cá dentro?... E se for cá dentro?... E quem sabe se não andarão por aqui resquícios daquelas unhas  dos répteis-raça-lukashenkos?”...

Rousseau deixou-nos este pré-aviso assustador: “O homem nasce bom, a sociedade é que o corrompe”. Nesta sociedade estamos nós, desde os altos magistrados das nações ao mais humilde e anónimo  aldeão das furnas. Paradoxalmente nesta sociedade também estamos nós, os que podemos purificar o ar que os outros respiram. Nós, os dotados de discernimento e verbo e acção, que podemos neutralizar os bidões de crude que os ditadores, todos os dias e sob diversas manobras (inclusive com ‘cavalos de Tróia’)  ameaçam despejar sobre as nossas cabeças, cegar os nossos olhos. Nós, os que nos recusamos a adormecer sobre as almofadas ou sobre as pedras que outros nos deixaram, porque estamos de passagem, hoje pertence-nos, amanhã será de outros, e é mandato nosso legar-lhes um mundo melhor do que o que encontrámos, um ambiente mais respirável, um governo mais humano e honesto, uma Igreja mais crística e  libertadora.

Citei estas e subentendi outras instituições, porque em todas elas, no sopé mais rasteiro, lá está o eiró viperino da ditadura mal disfarçada, pronto a sufocar, paulatinamente e com o semblante convidativo da serpente do éden, os incautos - às vezes, os melhores - enfim, toda a grei. Depende, pois, de nós, Sociedade, unir-nos para travar o rasto e a cabeça do perigoso réptil.

Escrevi no último blogue: “Escusavam-se as sanções da EU, da ONU, de todo o mundo civilizado, se houvesse na Bielo-Rússia um povo esclarecido, uma Sociedade sã e vigorosa. A urna do voto seria a “basuca” fatal contra a ditadura do antigo vigia-feitor de uma quinta soviética. Não seriam necessários heróis, nem mártires, nem jornalistas presos às mãos de um Estado-pirata.

Haja coragem de transpor para cá as induções que escorrem de lá. Gostaria de fazê-lo. É meu imperativo fazê-lo. Porque depende de nós não dar um naco de isco ao molho de eirós que minam a nossa democracia. “Juntos, temos o mundo na mão”! Sem protagonismos nem heroísmos.

Presto homenagem àquele Homem que, em 26 de Maio de 1521 (fez ontem  500 anos!) foi condenado como herético, pelo conluio entre o Papado e o Sacro Império Romano-Germânico, de Carlos V, na denominada Dieta de Worms. Condenaram Martinho LUTERO, mas os seus correligionários ainda hoje o mantêm vivo e até reabilitado pelo próprio Vaticano.

Não há força maior que a do Cidadão organizado e esclarecido.

 

27.Mai.21

Martins Júnior

 

   

 

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