quinta-feira, 15 de julho de 2021

DESDE A BOMBA NO AVIÃO DA FAP À “JUSTIÇA PELAS PRÓPRIAS MÃOS”

                                                                       


           De onde viemos e para onde iremos – as duas grandes incógnitas que, em todo o percurso humano,  abalam e mobilizem toda a nossa actividade. Talvez essa a razão que tem suscitado a atenção de muitos daqueles que acompanham este blog, chegando-me aos ouvidos este desabafo, vindo de perto e de longe: “Eu não sabia nada disso, obrigado pelo teu testemunho”. E eu respondo que “ainda há muito que contar”.

A nossa (deles) autonomia não podemos ignorar, sobretudo porque nas veias e nos feitos dos ditos ‘autonomistas’ oficiais de  hoje ainda correm o sangue e a pólvora dos auto-arvorados bombistas de ontem.

Trago apenas mais dois episódios constitutivos desta autonomia, qual deles o mais arrepiante:

1ª – A bomba que destruiu um avião militar estacionado no aeroporto da Madeira. Destacado na ilha, para qualquer emergência na Madeira e Porto Santo, era sua missão súbita acudir ao primeiro alarme. No entanto, chegava a manhã e toda multidão viu ’o incrível’: alguém durante a noite tinha destruído à-bomba a face frontal do avião da Força Aérea Portuguesa. Quem o destruiu?... Não se soube até hoje quem pôs o explosivo. O que se sabe e o que se viu – ironia do destino - foi a mesma aeronave exposta à beira de uma estrada de Água de Pena durante anos. Mais uma vez, o bombismo ao serviço dos auto-proclamados propagandistas da pseudo-autonomia.

Foi neste braseiro que nasceu e cresceu a autonomia, caldeada a ferro-e-fogo. Até na placa intocável do nosso aeroporto! Era este o clima de terror e violência em que viviam os madeirenses há quarenta e sete anos, pós-25 de Abril. Mas não ficavam por aqui os explosivos da violência. Era preciso passá-los às ‘vias de facto’ para as mãos das massas populares. E foi assim:

2º - “Quando chegarem aqui certos indivíduos que vocês sabem quem são, para fazer comícios, não chamem  a polícia, não chamem o senhor presidente da câmara. Resolvam o caso pelas vossas próprias mãos”!

Eis a palavra de ordem pata todo o Arquipélago, desde o palco de Câmara de Lobos pelo, mais uma vez, auto-proclamado progenitor da autonomia, protegido do regime salazarista. Ao falar dos tais “indivíduos” referia-se a ouros partidos intervenientes no processo eleitora daquele ano.

Tudo se abafava sob os cobertores da autonomia (deles). Os jornais silenciavam. Por mais duro que pareça, repercutia-se aqui o anátema do fascismo salazarento: “Para ler-se noticiário da Madeira, tinha de procurar-se nos jornais do continente”!

A ameaça, o terror, a insegurança de pessoas e bens marcaram esta autonomia. O pior é que a herança ficou. E como madeirense, eu não sustentarei nunca que usem do meu, do nosso nome, para  se arvorarem em corifeus da autonomia aqueles que não deixam ao Povo um palmo de personalidade para afirmar o direito à sua cidadania plena, a autêntica cidadania autonómica.

Muito mais há que contar!

 

15.Jul.21

Martins Júnior

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