Elias, em desespero, pediu a morte…
deitou-se no deserto, à sombra de um zimbro. Uma voz despertou-o: “Levanta-te e
come, porque é longo o teu percurso”. Então, viu a seu lado um pão cozido nas
brasas e uma bilha de água fresca. E andou quarenta dias e quarenta noites pelo deserto
até chegar ao monte Horeb.
(Do PRIMEIRO LIVRO DOS REIS, cap.19)
Quantos
desertos além do teu
além do
meu
à
míngua da ignota gota de água trazida pelo vento
E
quantos rios glaciares sem freio
aquém do
meu e do teu
gritando
um grão de areia que os devore e aqueça
Ai, os
estilhaços em brasa-lava tresloucada
com ânsias
de um vazio mudo que os entenda
Ai, os
escombros de silêncios-solidões
à escuta
de uma breve almofada palavra
palavra
pão
palavra
pedra
palavra
água
palavra
luz
palavra
sombra
palavra
ela e o seu contrário
conforme
a fome a sede a noite o gelo e a chama
que
somos
Entre
a nascente e a foz
estou eu,
estás tu estamos nós
na repetida
opereta dos dias contraditórios
O7.Ago.21
Martins Júnior
❤
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