A
olhar o quê?...
Peço licença aos criativos dos XUTOS E PONTAPÉS para adoptar uma das suas canções, de 1987, e
perguntar: “Olhar, sim, mas olhar o quê?”...O céu, o cais, o caos, o charco, a
enxerga, sei lá que mais?!
Tudo isso e o seu contrário - e a que se
convencionou dar o magnânimo qualificativo de DEMOCRACIA. O que há de mais belo
e aprazível e, do avesso, o que há de mais disforme e peçonhento.
Etimologicamente, tanto é paraíso terreal (céu na terra), GOVERNO DO POVO, como
também será o GOVERNO DO DEMO, com toda sanha e imundície que Satã é capaz de
transportar.
Fôssemos nós genuínos herdeiros das
democracias atenienses e olhássemos ‘com olhos de ver’ o mundo maravilhoso d’A Vida das Abelhas, como a descreve Maurice
Maeterlinck, teríamos o melhor dos mundos, proporcionalmente igualitário para
todos. Por selecção natural, teríamos os melhores líderes, os melhores mestres
e os melhores artífices da felicidade comunitária.
Mas o que vemos?
Com algum desencanto e muita, imensa
indignação, rebobino o filme do regime em que vivo, desde o 25 de Abril de
1974, olhando para a minha terra, onde nunca chegou a floresceu nem frutificou
o Cravo da verdadeira Democracia. Mãos daninhas, do Demo da ditadura, enluvadas
e caiadas de mãos do Povo, enxertaram os virus mais infestantes na raiz da
Democracia e o que produziram foram apenas magros simulacros do Cravo da
Liberdade, os quais têm a sua expressão, de quatro em quatro anos, nos eventos
eleitorais.
E aqui, precisamente, no estádio livre das
escolhas democráticas, onde deveriam emergir os valores da cidadania plena,
aqui é que nos deparamos, não com o ‘céu’, mas com o ‘charco’ – a enxerga
viscosa dos interesses classistas, dos ressabiamentos tribais, das trocas de
pele e mercado das consciências. E porque muito desse circo já vi ‘com olhos vistos e com saber de experiência
feito’ (sempre a acompanhar-nos o grande Mestre Camões), sinalizarei apenas
cinco tópicos para análise dos autênticos constituintes da soberania popular,
os cidadãos eleitores, deixando-lhes espaço largo para ponderação, comentário e decisão:
1º - Do espectáculo visual das listas a
candidatos surge-nos, de um só golpe, uma imagem aproximada à daqueles
foragidos que atravessam o Mediterrâneo: vem de tudo. Alguns ficam pelo caminho
por falta de tripulação, outros naufragam por não saberem nadar, outros abandonam
a barcaça inicial e agarram-se a outra que
lhes dê mais jeito e quase todos vão a monte, porque ‘entre mortos e feridos
algum há-de escapar’. E ao chegar a terra, sempre haverá uma comendazinha no
bolso ou na lapela. É certo que nas olimpíadas e paralimpíadas da democracia
todos têm o seu lugar, mas casos há que ultrapassam o mostruário dos melhores ‘tesourinhos
deprimentes’. Não esqueçamos que estamos a escolher líderes e condutores de
povos e não apenas figurantes descartáveis.
2º - Outros há, mais furtivos e calados, que
navegam na corveta do trono e querem açambarcar o seu e o alheio. Estão
dispostos a tudo, inclusive renegar e calcar aos pés compromissos assumidos em
nome e mandado dos eleitores, só com um incurável objectivo: voltar tudo à
estaca zero, ao partido único, ao monopólio monocolor, enfim, à união nacional/regional do ditador, ‘orgulhosamente
só’. Cuidado: Todos nós, madeirenses e particularmente funchalenses, temos
pesadas responsabilidade nesta matéria. Mais que presidentes de hoje, estamos a
determinar regimes de amanhã.
3º - “Não, não sou o único a olhar”.
Gostei de ver e ouvir alguns cidadãos a
comentar, por desnecessário, tanto arraial publicitário pelas ruas da cidade,
alegando demasiada poluição ambiental e visual. Não estou só nesse olhar. Até
partilho a alegria suprema de algum dia ver ganhar aquele que não precisasse de
tanto sorriso inamovível e, por isso, alarve, abandeirado em hasta pública.
4º - Na reportagem, houve quem alvitrasse
que bastaria a comunicação social para informar a população. Por aí é que eu não vou. Sigam, como eu, a rota dos
comunicadores suciais e digam lá se o Fernão de Ornelas não dá voltas na cova
ao ver passar no aqueduto da sua rua os vendedores ambulantes da comunicação,
de um lado para outro, como dançarinos da mesma ‘ópera bufa’. Informem-se de
quem lhes paga o ordenado e vejam se acertam nos mesmos retratos. E aos que
espiolham uma câmara que “dá empreitadas a familiares de novos ou antigos
vereadores”, peçam que lhes seja dada
informação fidedigna sobre se têm algum familiar ou apaniguado nas
calhas do poder.
5º - Nem os tribunais comuns, nem
desembargadores da Relação, nem conselheiros do Supremo e do Constitucional,
nem Presidentes da República têm poder para pôr cobro a este pantanoso plano
inclinado da democracia. Só há um único Juiz, um único Presidente: o Povo, o
Eleitor, Todos e Cada um de nós!
19.Ago.21
Martins
Júnior
......Bom dia!.... Não viu nada ainda!... Visite o Brasil em época de eleições para ver como se distorce a democracia! kkkkk
ResponderEliminar......Bom dia!.... Não viu nada ainda!... Visite o Brasil em ép
ResponderEliminaroca de eleições para ver como se distorce a democracia! kkkkk