É
na passagem de nível, é na margem que separa a outra margem do rio e é no
sobressalto da transição entre dois mares tormentosos – é aí que se definem os
grandes homens, estrategas timoneiros do tempo que lhes coube viver.
É
nesse posto de comando, decisivo mas discreto, que vejo o Padre Alexandre Mendonça.
Conheci-o em Caracas. Era o tempo, agitado e promissor, em que, desde as praças
públicas e largas avenidas até às camisolas brancas de venezuelanos e europeus
em geral, lia-se em caracteres garrafais a palavra de ordem: “Chaves, lo sentimento
nacional”, enquanto em surdina de certas trincheiras dominadoras, imperava o
desassossego: “Chaves, aí vem o tufão”.
Foi
na sua casa e no seu templo, o de Nossa Senhora de Fátima e Coromoto, no qual investiu
o seu esforço e o seu talento. Aí vi ‘claramente
visto’ o seu empenho e total dedicação aos emigrantes (não só aos portugueses)
que, muitos deles, na Venezuela de então, já padeciam de carências notórias.
Recordo o seu patriotismo saudável e dinâmico quando, não obstantes as
dificuldades patentes, manifestava-me a sua discordância e até indignação com
os que, em Portugal, malsinavam o seu país de acolhimento.
Observei
de perto o quanto se sacrificou na construção do Ancianato, anexo ao templo, com o objectivo de receber os idosos,
nessa altura uma obra de premente necessidade pública.
Tudo
isto em plena efervescência da mudança de regime. Apreciei o tacto, a
prudência, a pedagogia cívica do Padre Alexandre e, na mesma medida, a coragem
em procurar soluções sociais inadiáveis. Só às almas grandes é concedido tão
grande privilégio! Prova disso, era a assistência humana e espiritual que
prestava como Capelão das Forças Policiais de Segurança em Caracas. Pena me
ficou não ter sido concretizada a agendada visita ao complexo Barrio de San Barnardino, a qual só
seria possível com a presença tutelar do Padre Alexandre, a qual o próprio se
me oferecera.
Na
hora da despedida, dois sentimentos: o de homenagem e saudade pela Missão
Cumprida e, ao mesmo tempo, a mágoa social por não ter podido prolongar aos
mais carenciados, portugueses e venezuelanos, a generosidade dos seus ideais .
Particularmente
da minha parte, permita-me o Padre Alexandre que transmita publicamente a
gratidão, como pessoalmente lhe expressei em vida, pela forma cordial e
afectuosa como me recebeu e o apoio logístico que prontamente me
disponibilizou, não como membro de um grupo parlamentar em que fora integrado,
mas como Irmão no Sacerdócio. Guardei até hoje e ficarão para sempre gravadas em
mim estas suas palavras de profunda intencionalidade declarativa!
Falo
do que vi, ouvi e senti junto do Padre Alexandre. Outros predicados maiores
levantar-se-ão, com justiça e verdade. Por isso, pela grandeza, simplicidade e discrição
da sua personalidade, repito o testemunho que então deixei: “Padre Alexandre
Mendonça – ALEXANDRE MAGNO EM TERRAS DE SIMÃO BOLÍVAR”!
15.Out.21
Martins Júnior
Os madeirenses na Venezuela sempre foram vistos como uma caixinha pra a Igreja da Madeira.... Por serem (muitos deles) de pouca cultura, qualquer massagem do ego e amor-prório os deixava abrir a bolsa para festas e comezainas... Nos sermões enalteciam a sua bondade e religiosidade sempre pensando nas avultadas esmolas e festas de arromba nas freguesias.... Salvo alguns padres, que queriam dar uma alternativa a esses gastos perdulários sugerindo alguma atividade que desse trabalho e perenizasse a sua devoção (explorada) .... para que desse dar chance a empregos e riqueza na Madeira, a a maior parte suspirava por uma festa que resolvesse o seu bolso e algum arranjo na igreja.... Neste momento, a volta de "venezolanos" à sua terra é vista com desprezo e sobranceria como se a terra pátria fosse madrasta.... e que só aceita os ricos e a elite.... mesmo que sejam ladrões de alto coturno.... Isso dá muitos textos e o padre poderia continuar com esse tema.... Ps: Morei na Venezuela e sei do que estou falando....
ResponderEliminar